A Semana: Revista Ilustrada - 1921, v4, n.155, março

a crise e o rolar do golfam da valsa, elle se mantivera com os labios co– lados sobre a mãosinha perfumosa que se apoiava sobre o seu hombro. l\íes o resto ?-O resto perdia-se na va o-a reminiscencia de nmu sensação, ó. qual se juntava nm perfume forte à e oelica e de essencia do baunilha. d ar balsamico que corria pelas arvores, refrescando-lhe o rosto, pou– de emfim desvanecer-lhe a agitação. Nem uma p<tlavra de Albertina, que lhe pareceu. então, prostmda. Tinha reflectido. Com a refl exão ucudirom-lhe as mais s inistras das recreminações. Reco1davu-sc de va– rios casos relatad os em re\·islas sci– ent.ificas. Os movimentos de um so rn•mmbulo, são de uma precisão qnasi muthemaUcu.As vertigens epi– lepticas 9urti cipam da mesma terrí– vel exactidão. Acaso não se trataria de um facto semelhante ao daquelle s luvo qu e, ern pl e;ia rua, na cidade do . Pet ersburgo, a busara entretran– rnunte, ,im perce bido,tüo rapid•J como 0 rai o, mnu g rado a vi ctima, da f0r– mosurn de uma moço_ila qu e. dis– trahida, o lhava para as ng uas trnn– q11il:as do Neva "! Seria pos&ivel ? Durante a val , a ? Qn e caso aho1ninavel ! Solm.' \"eiu– lluoi, ent:lo, um medo irre:;; ititi ve l. Nin a-nem passava por nii. Ao lon– a-e ;; fra go r das danças contru>tava ~om a so lidão c'.o sitio onà e o, dois i;e conservavam estarrecido,. .Jorge aj oelhou mun~111 rnnd o ~111 monos:, i– lnbo de perdao. P e n.lao de q ne '/ lf,w cria qn em o so ubes e? Albf' t'" i• na so rriu gelid amente e i1~1 pf' lliu -o cnm a mão direita que e ll e cstrei- A $F.l\!ANA ~~••••f••~•~••H~••••~•••1fJI-~ • tou frenetico. Sentiu-a fria, desse frio dcs rr,ortos, inconfuudivel com o do marmore ou o dos metaes. Es– to.va núa,-uúa es a mãosinha que ho. pouco o endoidecia , As carnes se contrahiro.m. Olhando para· o chüo vin o caduuer de uma luva. Estava. di lacerada . A esquerda des– apparecera. O philosopho peripatet.ico erg ueu• se an g ustiado; precipitou-se sobre os fra gmentos da pelica e uni.:1- os aos labi os 11nm espasmo. Albertina. continuou 11 medil-o com o olhar; ma agora , surpreh endida, fez os – cilar o leque c0mo um fi abell o aba– nando o re n rosto de es phin ge. Jorge dete ve-se por al i;un s ins– t r.. ntes a comparar os retalhos mur– chos da luva com a mão sem vida F.s dP. Al' Ntinn. talvez mni3 di g na l"'nlão de 11111 · sa rcophngo. fliu -se e a rrastou-se. Ao tran s por n porta cl0 sa lão pPr– cebeu que a moça soluçava. Era t .1rde; o presti g io tinha ce3!;ado. Libe rt..1,ndo-i::e da multid ão ind1ffe · rente, p roe urou o vestiario, t omon o ch a p(•u e o so bretudo e ahiu do palacl"te . A malt.a d'! oc icsos co11- te n1pla,·a ainda ttqn ella hora a i:lu – min ai;-ão exteri or. J orge ati ro u se no primeiro bond e. No bolso <la ra~a– cu os fra o-iue n tos da lu va compri – midos sob~e o peito communicavam · lhe uma de lici:>s a re nsação retros – pecti va . Depois disto e duran te o Lraj ecto panl casa, novos racioci– nius e s ucced eram e xtrnvagant es, pa radoxa es, $em e:;;perançns do e xi· to. Não é sonhando que se recons• tróe um sonho. ••• ' o dia segninte J orge, por volta de onze h ora s da manhã , entrava no consulto ria de se u :11edico. A conferenc ia foi long a e r,orfi - 11da a. di.,Cu$,iiO O piniões d e p ;;i• c hiatras fo ram debaticlas. A natu- 1·ezn. nppoz a sua ete rna m<>tnphis i· <'ª• Não conseguiram cl1f'ga r a a c– côrdo, · na op inião do illustrad o fa~ c ultati,·o o caso era possi,·el, ma;; 11ão s, ria para despreza,- e uma C'ircumstanda impo1·t anti s ima; o s lavo tinh a a dinamite no san g ue e não a f acid ez de ne rvos d0,; t ro– picaes. Co ntud o ao despedir-se, 111:. escuda, fez-lh e uma. 1·ecomme nda– ção que o ob rigo u a. ri r. Não se l·squecesse o e nfe rmo de famili a ci – z•ar se cnm as mã..,s nú as da mulh er a quem arnasse, - Neste ca o, di$Se Jm·ge, b !mos a hyputh ese daq ue ll e infel iz que nãn poélia amai· a ve nu de Mil o; sem mã os, em Iuvas, todo amor me é vedado. - Ex::ic lamc nte, respondeu o me– nico. Para os homens de sua natu – reza esse se nt ime nto, e•se phe110· meno de electri ção só se p rod uz pela visiio d e un s· dedc s de mulh er, comtanto qu e e nl uvados. H a outros mai , felizes. me u caro ::i mi go. os que encontram esse co ndn ctor nos fios 1uag neti cos de un s cabell os loiros. Araripe Junior.

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