A Semana: Revista Ilustrada - 1921, v4, n.154, março

me mais o braco, os teus olhos iam ficando mâiores . . . Os frei• xos e os amieiros ramalhava n doces como uma caricia, como um brando esmagar de sedas. Mas o moleiro veio com os tal e igos, e abalamos. --Adeus, tio Pedro. -Ide depressfl, cnnalha. Olhai lá se veem as bruxas ! J á o lu n r subir;i, alvo e lindo, como uunca m;iis vi oulro, Luisinha . Q.ue saudade que tenho do luar da nossa terra 1 Não ha outro assim, nunca vi outro igual áquelle qu e balia nas seai·as suspirosas, nas ei– ras onde bailamos ao som das viola s, por noites mornas em que os raJos cantam, e o flr r eséende ao mangericno do S' - namorados ... E foi a ess e luar que tu, ti111i"damenle , me se– gr eda s te: -E se ella s \·eem, as bru- xas ?!. .. · E e u n ã o respondi , sempre bra vo ao p é da tua do cura– não res pondi, Luisinha·, por– que ti\·e medo. Sz el\as vi– nham, as bruxa s !. . . Para que . nos viera o tio Pedro falar del– la s, n aqu eHe sitio e rmo , com p inh e rai s fun é reos, quando o lu a r j á ia a lto na monta n ha , ea feiti çando a natu .-eza Inteira, porqu e a lua, alina l, é la mb em uma bruxa q u P. tem filtro s para e nca n to s , e a cuj o hrillio antigo ainda os P, Oeta s anda111 todos encantados. Não tardou que tn medisses– ses, logo adiante, onde as a r– , ·ores eram mai s densas! :-Ella s lá estão, ollrn , olha!. .. Ttnhas os lindos olhos es pan– tados, es ta vas muito branca, m a l s ~s tin h as o peque río saco d~ farmha. E e u olhei e effe– cll vamente \'i as bru xa~. ve s ti– das de b ranco, entre os ramos ' d • es, oa ça n o e dan ça ndo •. Alg~ma s tinham o rosto en– c arq uilha do , os olhos r ed on– dos. como contas de vi dro , o n a riz cu rvo como um bico de m ilh a fre. S im , Lu ~ inha , era m efla s, que comec a vam a ronda p e rto dum ribeiro , onde i ri am beber á m ei a n o ite, qua ndo a lua parece abrir a i nda mais b ra nca no cé u, orvalhad a d as lagrimas de todos os que ama– ram. O' minha meiga , minha doce companheira! a gra ça de a~a pequen in a e medrosa com qu e me le ·:as:e r,a , a t 1,: re u t.s a r- hustos, onde ambos nos aga– chamos em silencio e tremen– tes, sentados nos taleigos da fornada. As bruxas continu– avam a esvoaca r entre os ra– mos mais fecbados, mais, per-· to do riacho que ia correndõ num suspiro. -Vir{10 para c ú ?l-perg un- t asle. · • • - Al·i10 qu e n:ío, .Luisinlfa , \'rio be ber ao ribeiro ... -E que:11 beber depois fi c a en caut ,1do ? Eu respondi que sim·. Mud a– va-se e111 , lobisomem, em aYe, em flor. .. E ali fi camos espreitando, apertando-!los as 111f1os· frias <te susto, os olhos litos uas bruxas que lrnila\'am entre as folhas,co111 uma alYura de so– uho a evaporar-st>. Ah I colllo.eu 111e lembro bem, Luisinha, do a larido que liOS acordou noite alLH, quando os nossos nos procuravam affli– ctos, <.:0111 lanternas e foices rocadoiras, e o tio P edro cha– màndo ,' grilando ro1_110 que-m es panta caça, com um baca– marte ao hombro: -Vocês não ou ve ifl? Eh ! ca– nalha ! Vocês nã o fala111 ? ! Eb !,.. E áqucllas \·ozes qu e se diri– am esterloro sas , e111 rouqui– dos, como se fossem de lou– cos; que acordava111 lH, bouças e as serras ro1110 estalar de guerra, e ::; zo rataYa111 as a,·es adormecida s - áquellas ,·ozes nós d esperlnra1110s,co111 as ca– beças cabid a s nos ta leigos, sob o fulgir da s estrell:is que coa– vam pelas folhas· a luz que tt? btlij ava . Ao vere111-11 os, foi uma ale– gria e um a g ritaria. -Que fa ze is aqui, canalha ? -gritou o tio Pedro. Tua mã e obracou-se a li a chorar, tal se te visse voltar da morte , m a is Linda ainda, mais pura aind a! Meu pae ralllou– me, 111 a s os seus olhos riam. Nós , at urdidos, apontamos,n rama da s arvores, on<le as bru xas dançavam. E logo o tio P edro aperrou o ba camarte, com g rande aparato, e ranger de fec hari a muito perra. - La 1.J.Iões ? Onde estavam? o n d e es ta ,·e m elles ? ! . E nt ã o o tio Pedro, como q ue :1 ~Offic ut11a e .1trari eda. d e, descan cou no chiio o ba– camarl e - vê rdad e ira machina de guerra. O s enhor prior, aquelle s a nto que t}lmbern vi· era, expli cou que n ft o havia bruxas,- qu e tudo isso e ra uma tolice e u 111 pecca d o. -Ma., onde estavam ellas ?. Se111pre gn e ria Ye l-a s . Nós apo11ta111os : -Anda111 acolit, de brnnco, entre o s ra111os .. , Ve ia, s e nhor prior, Yã o b e b.er ao ·Í·ibeiro ... -E' o luar, meus lilhos, quando os ra,uos estremecem co111 o Ye nto... Ent:io YOcê s não Yêe m que é o luar !... Era de fe ito o luar, que entre o c:l a ro das arvores, e11tre os ramos escuros, dir- s e-ia uma 1 u 11 i e::. d e cassa a h ·ej;i n te. Quem pud é ra vel -o ::ig01 :::i ., igual a re ndas nupriaes- que te cobrisse111 o corpo branco e \'irge111, Luisinha ! , Te111pos dep9is parti, co1u os olhos cheios · de agu:1, •1111111a barca de Yela, por doridas e lon a as noites de saudade. De- .., . d pois veiu :-i <:'limaria q11~ ar a barra; depoi s ri vemos 10111e e sêd e ; e aqui vi111 dar ~1 este clillla onde o sol escalda, terra llospilaleira e fec!lnda, mas onde os teus s orrisos nunca mais m e disseram que 11 111aior ventura do homem é ser •:llua • do e sinrples ... Oh l Lui~inlw, e de pouco prel:isa a gente na lena ; e talvéz eu nascesse para ser amado, eu 9ue tanto tl'nho a 111ado e sofTndo ! / ~!Jai:. tu uiio me respondes ? Luisinha ! Os a1111os que pas– s~ram (tam lentos para 111im como um cortejo funt:bre) as– sim d e presrn te apagaram tia alma a minha lembrança? Ou morrerias tn ! N,ão, niio, tu não devia s morrer. Mas é tam viva dentro em mim a tua sau. dade bemdita, enches-1he tan– to a \'ida, appares; e~ tanto nos meus sonhos nostalg1cos-sem· pre linda, se111pre 1loce, e cada véz mais palida ! - que eu ando aprehensivo, que lenho uma grande ancietl éHl~_tle ver– te, e sempre este mar 111~n!en– so a separar nos, flor d1v111a, ou quem sabe se ainda ~ulro mar mais largo e m_y~tenoso, do qual nenhum vrn1ante re– gressa a v~r a. te . ra tlon,le partiu ém s1l_enc10, . • Ah ! como tu ve ns patida aos meus so ~ ho :'.. ::

RkJQdWJsaXNoZXIy MjU4NjU0