A Semana: Revista Ilustrada - 1921, v4, n.154, março

000se0000 0 e0 ~000000000000000000000030000000©~ec00000e0~0~e~ 0~0e~ ~ 0 0 ~ ~ -~ 0 0 00e00:1>000 0 : ALESTRANDO ... ~ ~ ~ q) i 00:1>0000000000 ~~00000000000000000®0000000000~000e000000 0 i - E, querida , a noite como está linda I Quantas estrellas no azul, sorrindo )L,_minosas ! Tu que possues nm!L alma p neti cn, cheia de tanta ins– piração, porque te conservas muda , indifferente, pe· runte a ma gnitude deste momento ? And a, abre e:stes olhos fo rmosos e olha-me! Assim ... sorri, como só tu s abes sorrir . .. Lança para longe de ti essa melan colia, pois tu propria n ão a compreh endes. não lhe sabes a causa. E scuta ! T ocam! E ' «Alma de Dios » ! . .. .Na qui etude des ta sala onde n os encontramos agora, ouvindo o pulsa r de n ossos cornçJes, devemos tr ocar idéas. Vamos pal estrar um pouco, di strahindu o pensamento e expulsando de n ossas almas esta pequena sombra de tri steza que n os abate. Vou te co nta r, ou por outra, vou tratar de um assumpto que decerto te h a de interessar bnstante. Onve. Como rnbes, aquella senhora edosa, de quem te fal e i ont ro dia , e, tima-me muito e eu retribuo esta affeição com todo o carinho que me é possi\·el, che– g and o a cha n:ial-a vóvó. P ois bem! A mii,ha _\;ÓVÓ co tun'ia di strahir-me, cantando num som dolentP. e melancoli co un s ver.;;inhos defeituosos e sem n:iétrica, mas de um tal encanto que me e ncantam. E eu chà – mo a is,;o o fo lk -lorc da vóvó . Niio calculas, minha pallida J\ ma lth éa, como sinto a alma eml,alada por uma s audad ~ branca, ao ou vir a voz tremula e fra ca dessa ve lhinho. bondosa. Tem o sen canto o myst icis– mo dôcc, a poes ia ign orante, mas verdad eira, dos n os– sos sertanejos. São reve tidos da tristeza qu e carac– t e ri za os n ossos v ates que, como sabes, são nostal gi– cos e se nt imenta es. m destes dias pedi -lhe q•ie cantasse os taes ver· s inho, , p ara que e u o mudasse para umas musicas mai s novas e mai s aleg res como o • Papngaio louro• e outros. Mas a minh a vóvó, faze nd0 um m 11chocho de máu humor, prot estou energ icamente, diztndo-me que não queria inven ções. uDesde qu e. eu me entendo, d issA ·me ella, conheço papa gai o, mas papagni o ave e não mus ica ':l t odos os que te nh o vi st o são verde ; i~so sim , mns louros, nfLo me const a . . . Abrenuncio ! Esta mocidade de h oje . . . Uhn , uh n . . ·" E assim dizendo esticou o beiço num gesto de caçoada . Como deves ter adivinhado, esta respo!>ta provocou a minha franca hilaridade o e n me ri a va– ler. Depois que e riso ce~sou um pouco, eu tornei a p edir-lhe que cantasse outra vez. E ella, coitado., co meçou novamente, com sua voz tremula, muito tre– mula, como o r,:wnoreja r do arvoredo .. . Ouvia-a com reli g iosa attenção e . o.o terminar, agr.1deci-lhe com um longo beijo, indo então pentear– me p ois tinha de s ahir. Que longe estaria ainda o t empo em que eu teri a de substituir a vóvó n o seu fo lk -lorc! i::lim, un s bõns trinta annos, pelo menos, pensava eu satisfeita! Comecei a pentear -me ! Qual n ão foi porém o meu es panto quando, ao abrir o ca . bello, ei que surge por entre os out ros um fio bra n - co, tão branco, como uma fai sca de um raio em noite escura . Effecti vamente, o effeito fo i o mesmo de u m raio: fulminou-me ! Fiquei p e rplexa! i::ln1·preza ! B em longe estava e u ele pensar qu e a ve lhice de mim se avis inhava ! Deconido o primeiro m oi,,ento de immo– tilidade e surpresa, suspi rei re ig nada, j á reve tida da prese nça de espi1 ito que é o rr.eu baluarte nos mo– mentos diff1ceis da vida . .. Não deixarei de te confesrnr que este intruso ca– bello branco veiu dGsfazer todos os sonhos e illu ões de minha mocidade.. Todos, tod os ! ... Ora imag ina que Alberto, chegando, decerto fica rú igualmente s ur– preso com a minha velhice prematura e, desg-ost oso, pnrá um «ponto final • em tud o . .. e adeu s .. . Ao pensar . nisto, c1ê, ~fog e me o sangue da;; veias e 0 · coração do Jogar» . Oe pois de tão. longa ausencia, eu que o es perava saudosa, antegozando os dias felizes de convivencia fntn ra, vejo «tudo, tudo perdido eutre n ós doi_sn .» Ago ra? E ~ conte nt~r-m~ com um p ouqui- . nho' de si.ta affeição, un icamente. em pa ga de tanto am'lr - Terei por consolo a sua amizade d a irmão . Hei de olh ar fi:a.terna.lmente ·para 11 sua. cabec inha formosa , ornaaa de- cabellos n egros e SP.dorns. para. a s ua phys ionomi a p allida e sympatl: ica, onde se refl ecte a honda'.le de sua alma ; merg ulhare i o m eu olhn.i· nos $eus o '. hos negros como aby smos traiçoeirns , o r– valha rei minh'u lma com a doç ura ineffuvel de se u sorriso, ouvirei a mu s ica melodiosa de sua voz. M:a s tudo istc, j á se vê, é uma simples amizade pois O a– mor eu t enh o de re nunciar na app a renc ia, muito em– bora ell e exi ta a inda inte nso ' · n o fund o, bem n o fundo " de mi nh a alma . .. E tud o isto, vil ? po r um fi o de cabei lo hrnn co ! .. . Mui ta s de nos,as ami g uinhas põem ag ua oxygeuad a n os co.b~llos para qu&fiqu em louros, out ra t in g-em-n os com " Negrita '' para fi carem negros e e u, minh a a– mi guinha, pinto os meus com a preoccupação de es – pirito para que fiquem brancos. Ao menos, quando eu passa r por qualquer _pessôa, se rei cum prime n ta da com o respeito que é devido a t odo o cabello branco . ro r isto eu te aconselho, qu erida minha, que n ão te impress iones muito com as coisas desta vida inutil, para que não sejas unte., do tempo e. successora de t ufL vóvó no fo lk /ore para os netinhos ... Go~to. te do assumpto? Bem; j á esqueceste a me– Jancholia. de ainda pouc•>. Era o principal; ago ra como já é tarde vamos dormir. Irás sonhar com os anjinhos de azas e setta$, emquaoto eu vou ter por pe o.dello o fio de cabe llo branco que, imprev isto e o.presentado, mette u-se on de não era ch amado . .. . Mariza ~--!&>:- -14>:– ·~--:~--~•· DR. AMANA]ÂS FILHO -14><--~--:~- -:~ --~· ·lo/,· Medico operador e parteiro Consultorio: Travessa S. Matheus 15 -:o:- Das 8 ás ') eia manhã e cios 4 ás § aa taraa - :o:- Residencia : Campos sanes 122 ?iielephone, 8 98

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