A Semana: Revista Ilustrada - 1921, v4, n.153, março

Anno IV Belem, 5 de marco de 1921 * Num. 153 ------~--- ---------- ------ ------------ 1 OlRECTOR·PROPRI-ETARJO \ SEC R ETAR1-0 R E UACT O K·CHF.F"E ROCHA MOREIRA A~UlD.ES SANTOS BIANOR PENALBER Toda a correspondencia deve ser dirigida a .ALCIDES SANTOS 33-TRAVESSA 7 DE SETEMBR0-33 REDACTOR REDACTOR D'Artagnan Cruz ~ TELEPHONE, 278 ~ Edgar Proença Inverno e Verão >11"'\ GORA que a_tra~essamos o ~ reriodo rna1:,; mttnso da quadra hibernal, cresce a grita do:; que ::;e sei1te111 p1tjudicaJos pelos aguaceiros impie,losc,s, grita que part~ das mesma:; boccas que l'ICcu--avam o ~oi. qu :-i nJ o o ve1 ão se revel av,1 em toda a sua pompa de ouro. BemJ ito seja, porém, o in• vcrno que arna111111enta o sol<•, que vem para o rev6rd°escer das arvores, que orvalha os cam– pos de plantação e que com sua temperatura agradavcl torna o trabalho rneno!- penoso <! mais alegre o trabalhador. Se a lyra dos poetas panthc– istas, hoje, adormece, por não se pintar á hora do arrebol, no fundo azul do céo, trechos bi· zarros de nuvens de ouro e rosa, é que os poetas apenas sabem cantar aquillo que outros descantaram e que já não pó,!e constituir ori g ina lidade. Eu, poré m, adn_iiro essas ma– nhãs brumosas, fnas e merenco– reas, em que se _esbate no es– paço um triste . cinzento pe~ola como a annunc1ar os aguaceiros to11itruosos. Sem O vento das manhãs ve– ranicas, as arvores se revelam, impassiveis, es tatuas verdes , a que não beijam as alegrias do sol. No tronco annoso da mutam– beir::i, cuja imagem contemplo através da vidrm;a da janella, rechina urna c1gan a, zangarre· an ,lo o canti<.:o do inverno. TRlvez porque nasci na terra onde as agua:; do céo são sem– pre escassas, amo o inverno, o doce protector dos lavradores. O ve,ão vem proximo; se avisinha111 os dias da canicula, das tardes abafadas, das noites estrella,1as, r, ias incommodas. Quando o Verão for vindP, quando o sol envolver com a sua luz de ouro a terra, os qu.:: hoje invectivam as ag_uas in– vectivarão o .sol, amaldiçoando a canicula. E' que os homens são os eternos rebelados, sempre incon tentados, ambicionando o que não possuem e refugando aquillo com que, dadivosa, os premeia a Natureza. A' hora t:m que escrevo es– tas linhas apressadas, depois de uma noite chuvosa em que pin– gos dagua, como saraiva, tin– ti11abularam rnbre as telhas e as vidraças do meu casal, após um amanhecer tristonho, eis que surge o sol ~ um raio seu, atra– vés das folhas da mutambeira desabrocha á minha vista como um santelmo deslumbrante. S<:! eu ainda atravessa5se essa ~uadra alegre da vida em que d1..:--cuic1ado e cheio de velleida– des, me apaixonava por todos os aspt:ctos da Natureza para rabi ~car · versos. embora maus, aquelle raio de sol me seria mo– tivo para que broslasse um so– neto. Fel i2rne11te ou infelizmente, a epoca L1essas velleida<ies passou. Hoje, atirado para a vida pra– tica, já me não emociono com as soberbas manifestações da Natura, nem com os amores das Elviras chloroticas, que accor– ~arn~1 - descantes- e madr1gaes a minha lyra, .ia quadra dos . vinte annos. quanào por amor Jo Amor, todos os homens são poetas. Mesmo assim, seja bemdito o inverno que orvalha o solo, bemdito seja o verão que fe– cunda a terra! R . M . ----o- R ecebemos o 6. 0 numero da Ama· zonia llluslrada , revista que se publica no nosso meio. Está. recommendavel. -:-'remos em wiios, tam~m. .,, numeros mais recentes de Gil iJ1as, pamphl eto naciona lista que se pu– blica no Hio.

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