A Semana: Revista Ilustrada - 1921, v4, n.153, março

- 0S - CONTOS' -DA- SEMANA Recli nad a no colo do avô , com a cabeça no seu bra ço, a pequ enita sorria, os olhos qu as i cerrados, escut ando as hi s lori as que elle conta va . O , n e puscul o enchia a sala duma cl a rid ade doce, como ,;e a ti– vesse 111 pol\'ilhado de oiro pa– lido . Entre os retratos da parede · havia um de mulbel nova e linda, de rosto oval, ó cabello castanho apa rtado como o das madonas, com uma garganti– lh a de pérolas. No antigo conta do r de pau preto rescendia um grande ra mo de cravos. O a vô ia conta ndo : - . •. Era nm grand e j a rdim com po r ias d e oiro, um ja r– dim de _mar av ilha. HaYia lá tod as as flo res de qu e tu gos– tas , can tavam lá as aves mais lin das d a terl'a. Mas gua rd a– va m-no d ragões d e olbos acce– sos, e q ue ra l'o ado rmecia m . .. A nela ia ouvin do, com a ca– heça incl ina da, ma is doirada q ue a luz d o c repu sc. ul o; a hocca sorr ia- lh e como os cra – ,·os Yerme lhos . A luz ill umin ava, num beij o d e oi ro , o retrato d a avó a inda moça, com a sua ga rga nt illrn d e pero las; e o ve lho , o lh au– do-a , via o jard im se nho ria l on de a amara aos vi nte a nno s, a lo nga rua de limoeiros , o nde lbe dissera, com uma voz de S() nh o. os pri meiros segre dos d e amo r. -Avô, e quem é que estava no jardim ? Conto de Julio Brandão o RETRAT-0 - Uma pri11 ceza e nca nh1d a , qu e n,em tu presumes como era !ir.tia e co111O era boa ! Na retenliva , mela ncholica ~ Incida como lagun a qu ie ta, espelhavn-se, a di s ta ncia, a casa de Ma rianna, com os muros cheios d e rosas , onlie ella o esperav·a; o banco dis– creto; onde a1i1bos conv e1'sa– vam á so 111 bra das 11 oguei ra s , ouvinlio as touti negra s e as fonte s, que então lhes canta. vam o epitalamio, e que, des– de a sua morte, ficaram a di– zer uma elegia. Da velha tela, Marianna olha,·a-o sempre COlll os gra n– des olhos de veludo escuro– que elle lhe beijara a primeira vez, ao nascer da lua nova , na rua dos limoeiros. -Avô, e a princeza ?-tor– nou a pequenita . - Ah ! sim .. • a princeza lá eslava enca ntada! Qu ando o dra gã o dormi a , todo s qu eri am acorda i-a : as a ves ca nt ava m ma is alto ( :i lgumas d n ham poi sar-lhe nas mãos e no ca – bell o); vinha m princi pes d e muito longe com p re!>en tes marav ilhosos . . . -Para casarem com ell a ? -be certõ . . . - E de poi s? -Depois ell a não os vi a, po rq ue era preJ; iso que lh e q ueb rass em o enca nto, e nen– hum lh e a di vinha va o seg re– do I Até q ue u111 d ia a lguem lhe d eu a cheirar u ma flo r mu ito ra ra - e e!l a a b riu en tão os olhos d es lumb rados, e sen– ti u a belleza do mu ndo in tei– ro, d as lio,-es, d as arvores, das es tre ll as . .. -Que fl o r seria ? -Que importa o nome? E' uma flor lambem encantada ; ao se u perfum e lu do no mun– do ê lindo e no vo ! , . . - E de11o is casou a p ri11ceza ... E houve fes tas, e to rara m os sinos se te di as , e veio o se– nhor bis po a bençoai -os, muito ve lhinho, co111 o grande anel no d edo . E e ll a ia ves tid a d e branco a vô ? ' -J,i se , ê, Io da de b ranco e como se fos!> e no 111eio de az;, s bra ncas e de nuve ns doira– das,. · E os olhos do retrato, na luz fin a do fim do d ia, tinham aind a uma doçu ra n upc:ia l. E o velho vi a Marian na na tarde do casamento , como quem ,·a1 para u m grande Sonho, co111 um ra mo de flores na mão, que e lle lh e d era . A sombra ia crP.scendo en– volvend o a figura airos~ do re trato-q ue ha tanto se sumi– ra nu ma outra sombra im– n? en ~a, qu_e n inguem pôde amda a lu 1111ar l Na tela uni cn. mente sobresahia a garganti– lha d e pero las, e o colo, dum a lvor baço e maci o de petala. E ~ ve lll o , ao ve r O retrato esva11:-se e perder-se, sentiu no peito uma onda de tristeza como s~ numa ruina ch eia d~ lua, u ma grande ave nocltHIHl esvoaçasse . A neta cerram de todo o• ol hos adormecera num sorri: so--.vendo talvez a princeu v,est1d~ de branco, sou n,r c . 111 veuo d_e _!'Osas, e o sen ho1 bispo de nutra, e os ca,•allei. ros. com largas plumas d{ aguia l Mas os olhos do velho, aind E molhados, viam Mariann~ morta em plena mocidade– dando a vida á mã e d essa cri– ança que ell e tinha ago ra IH GRANDl FABRICAS,VICENT~ M. Sa~~~~•~E~?bato ela!- afamadas compotas de frn d as parae11 se:- Te le11hone, 1347 ü&, Hl 1/\ PAES DE Ci\H\'J\f.110 ~9 . Tt~1t·pho11". l 3 1 i

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