A Semana: Revista Ilustrada - 1921, v4, n.153, março

SElvIPER VANITAS E quando publícao;; o teu livro, esse çoema de ouro, em que celebrns, em alf'xan – drinos magn íficos, a b<!lleza de Wa:i ,1a Currê;i? perg untou An a toli o Vieira ao seu amigo l\,1au– ri cio Ramo~, o r oe ta das • Rosas de Verão». -Nunca ... - -Como nunca?! ... perg:.mtou An ato li o ad· mirad o; dar-se-á u caso que o teu egc) ismo re– SP. rve apenas para o teu enlevo, estes ve rso::; soberbo'-, quiç á os mais bellos de quanto::, tens escripto? roux;noleio s uave, murmurou:- Porque não es· c reves um poema, M:rnricio, em que eu seja a imagem un1ca que povoe os teus versos? Ell11 sabia que mesmo dos meus versos pan– th eistas , era a dor.e inspiradora. Bastava que me falasse do mar amplo e ton it ruoso, dos re– ga tos murmurejrtntes, dos j a rdins fl oridos , das a rvo res e do ~o i, dos dias de in verno e das no;tes es trel ladas , das manhãs veranicas e dos lua res magnif1cus, par 'l que eu vers ificasse com a lma, como se eu partilh~sse de sua existen– cia e rninh \ tlma depen ot:sse da sua. Pois bem, dentro de uma sema ,1 a em que, dia e noite, eu traba· lhava com afi nco, con– cluía o meu poema ou sejam estes versos que intitulei «Po r amôr de Wanda». Ao a ssignar o po• ema não imaginas o meu desejo e rn e,1tre– gal· o á musa que o inspirava. - Eu te explico ... ~orno sabes, Wanda foi durnnte largo tempo a mu~a que ins pirou os m(us mais bem traba– lhados versos. O amor el1mentava a minha imag in ação doente por essa obcessão que e ra provinJa da bell eza de \tVan-.1a e do amor que· elia parecia ter por !nim. Não imaginas, Anato– li o, com que facilidade eu verseja va. A' n o: te. depois de ter lido á mulh~r amada, os ver– ses que po~ am0 r do se •J amor produzira e que pareciam lhe cau– sa r tão grande prazer, eu, em chegando á casa, novas estrorhes escre– via, sentindo-me feliz eir, ter alg uem que eu amasse e que me com– prehendesse. Eunice e Abelardo, gal antes filhinhos do be.-nquisto so licitador Abelardo C ondu1•ú Wanda h'-lvia me de– terminado que nunca a procurasse antes das oito . horas da noite. Nesse dia, porém. não tendo em conta a sua determinr.ção e queren– do merecer.-lhe mais cedo o beijo prometti– do, quando lhe entre– gasse os versos dese– jados, Lorri á sua casa, antes das sete horas. AntP.S nã0 o tivesse feit'). - E porque r.e apagou tão cedo a chamma do teu amo r ? -Ouve-me e não me interrompas . Uma noi-. te em que li a \Nanda, uns versos cuja epigra– phe era o seu proç,rio nome, ell a pagou -m'os com um be ij o, o pri11'1eiro que eu colhia na pre– ciosa fl ôr da sua bocca. Dir-se-ia que um deliquio se apo~1erara de mim e que se a mu lh er adorada me pejisse um sacrificio, eu não hesitaria em satisfazer-lhe a vontade. Nessa noite, Wanda, com aquella voz que era -Não estava em casa? - Então, não comprehendeste? ! Wanda ama· va outro. que ella despedia como mais tarde vim a saber. ás sete e mei~ . O amor que de– rnonstra,·a alimentar por mim, era apt::nas o de· sejo de ser endeusada em versos em que, ceie• branao a sua bellcza t.u satisfazia a sua im· . 1 mensa vaidade. E por isso, meu amigo, estes versos nunca serão publicados . ::M:ario H . Corrêa

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