A Semana: Revista Ilustrada - 1921, v4, n.151, fevereiro

• , os - CONTOS I! Conto de Julio Brandão \ ';;;;;;;;:;;}f-;;;;;;;;;}f-_*;;;,;;;;;;;;lf-;;;;,;;;;* ;;;;;;;;.;;~ · o;;;;;;;;;,;_s_o;;;;;;n_h_o_d_o;;;;;;;;;,;C_~_P_u;;;;c_h_o;;;;;;;._;;;;;;.;.}f-~}f-;;;;;;;;;,;}f-_}f-;_;;;;)ff.~I -DA- 1 Uma noite, aquelle capucho triste e resi gnado sentiu al– guem abrír-lhe a port::t da cel::t, fechai-a em seguicln devagari– nho, e com passos lentos diri– gir-se-lhe para o catre. Depois • esse <i]guem sentou-se-lhe aos pés do leito, e disse-llie: -Santas noites, irmão. Elle resppndeu: -Santas noites, fr. Louren . -Ainda me traz aqui aqueÍla conversa que ti vemos na ce r– ca-disse o outro numa \·oz Jonginqua.-E' ainda sobre o Amor e a Vida ... E como a mulher anda sempre nestns anças, trago-lha aqui, a tal que o senhor desejava conhe– cer... Lembra-se da historia? poi!. trago-lha aqui. -Ora essa I ora essa ! Fr. Lourenco olhou em volta, que ninguem' visse. Em segui ~ d n tirou do bolso a caixa ele ra pé, abriu-a, e de dentro sal– tou uma mulh er formo sissima , com uma corôa de hera s na c::tbeça impecca vel , \'elando a s ua nud ez apenas um grand e manto fino. Depoi s d eu u111 beijo em fr . Lourenço, qu e lh e di sse: - Jui zinho I T emo s as neira . O ca pucho sentiu -se córar e es tr emece r. · Ni'i o ti n ha co rage m pa ra nrti– cu lar pnlav ra. Sentia -se lim i– d o e canl.ies tro d ia n te da q ue l– la mn ll.ie r des lumb ra nt e. E li a era vo lup tuosa e fo rm osa como certas fi guras da Bíb lia. Os cabellos de Es ther eram fra– cos-os desta cahinm em cas - catas dum loiro phosphores,. cente; ~s largos olhos derra– ma\'am ful gencia s luna ticas, e piscavam-lhe de leve, .eston– teantes; o corpo delineava-se como o de Eva, debaixo do manto subtiJ do tecido qJJa!!.i aé reo. Devia de ser como um nrnrmore hellenico, esbelto e forte. Como coubera ella na caixa de rapé do frad e ? Gran– de astucia I Grancle talento! -Elia indinou-se ridente so– bre o catre, e deu-lhe uma pal– madinha na face. O cnoucho sentiu-se boiar à flor ·duma lagoa encantada, arnmatic-a e morn11, cujas aguas o ungis– sem ele amaviosos l.Jalsamos. Sorriu-se, menos timido, e es– tendeu-fhe os labios. -Juizinno, ó irmão 1 Era fr. Louredço, qne se pu sera a pé, m;ijestatico. -Tronxe-lha aqui co111 gran– de difficuldade-continuou.– Ora pois, circumspecçã o e pouca tre ta. Com cautela e se– gredo, poderíamos if até lá fóra ..• ._Cáspité I Cáspité !- disse o capucho . -Bem, juizinho ! to rnou o erudito. l\I as ouviram-se passo~ no corredor . Aproxirna\'am-se . -1'\ bi vem a rond a , e ago– ra ? 1 di sse affli cto o capucho, com os cora ções aos pulos. Os passos av is inha vam ·se nrni s, mol es e rn ga rosos, no sil ~ncio do con,•e nto a rlorm e– cido. -Eu metto-me 1t eba ixo da ca mo. E li a qu e se deil e a hi -e \'eja m lá! Res peil a vel se nsa– boria , se sua reve rend íss ima n os descobre o negoc io-rema– tou fr. Lourenço . Ass im se fez. O capuc ho sen ti u-n des liza r no leito, mys- teriasa . e magnil'i ca. Tremeu ao tépido contacto da sua c;u – ne sumptuosa. Sentia u11 n1 voluptuosidade nova aquell e homem casto, e o receio pn– nha -lhe no peito rnfos de coraci'lo adoidado. Cobriu -a toda · com a roupa-e quando a porta da cela se abriu, e a ronda entrou solenne e tran– quilla com um rôlo d e cera acceso, elle lingiu que dormi a , a tremer como juncos. · -Respeita\'el semsa boria 1- dizin o outro. em voz a lta , de– baixo da cama. -Que idiota ! - pen sava o capucho, Punha-se ·a folar na – quelle momento. Teve um suor frio. -Irmfio- disse a ronda.- quem falou aqui? , -Soubesse su a paterni (lla de que ninguem ; só se foss e elle a sonhar. .. -Pa receu -me que d ebaixo do \'Osso catrn al guem expri– miu um pensamento- tornou o outro, profundo. O capucho sentiu qu e pela te s ta lhe desciam bagas d e suor pesado como chumbo, e frio. Ao mesms tempQ a mu. lh er 111 ys te rio sa beli sca va- lh e um braço. Elle d eu-lh e. afíli– cto , um coto ve lúo no se10 - emqua nlo ell a ge mi a , a s uITo– ca r o rim. - ·Üu\'i ~te '? 1 - pe rgunt ou a ronda . E a ba ixou-se, com o rólo d e cera bru xulenl a, a es preit a r d ebai x.o da cama . Qu a ndo o \' ÍU njo elh a r, o ca puc ho te ve u111 frio g lúc ido . de morte. Esqu ece u-se ile qu e es tava a o se u h1do , no mes mo lei to um a 11111\he r mais bell a que Susa na, e d ece rto men os pud ica. Parecia q ue o cora._ çii o lhe empede rn ira; ne m GRAN@FABRICA S, VICENT~ ~~,::,~:::::~~~:~:r:,:: Tele].lbone, 1347 9:i, RUA PAES OE CAH\'ALIIO :-;9 , Te l cpho111•, l3~7

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