A Semana: Revista Ilustrada - 1921, v4, n.151, fevereiro

-OS- CONTOS Conto de Arthur .Azevedo ,,. ,,. * ,,. * A Filha do Patrão ,,. ,,. ,,. ,,. ,,. 1 -DA- SEMANA 1 O commendador Ferreira esteve quasi a agarrai-o pelas . orelhas e ·atirai-o 12ela escada abaixo com um pontapé bem applicado. Pois não! um biir~. um farroupilha, um pobre di- • abo sem eira nem beira nem ramo de figuefra, atreve-se a pedir-me a menina em casa– mento I Era o que fall àva I que elle estivesse durante tantos annos a ajuntar dinheiro para encher os bolsos a um valde. vino daquella especie, dando. lhe a filhll ainda por cima, a filha que ero a rapariga mais bonita e mais bem educada cte toda a rna de S. Clemente l Boas! O commendador F'erreira li– mitou-se a dar-lhe uma res– posta i,ecca e de..:i siva ; u:n Não, meu caro senhor, capaz ele desanimar o namorndo mais decidido ao emprego de toda s as astucias do amor. O pobre rapaz sahiu a tordo: ado, como se realmente hou– vesse apanhado o 1>u xflo de orelhas e o pontapé, que feliz– mente não passaram de limi – do projecto. Na rua, sentindo• se ao ar li vre , cohrou animo e disse aos seus botões :-Pois ba el e ser minha, cns ,e o qu e custar 1- Voilon -se e viu numa Janella Adosinda, a lilha do commendador, qu e desespera– damente lhe fa zia com a cabe– ça signa es interrogativos. Elle eslnlou nos dent es a unha do pollegar, o que muito clara– _mente quer dizer-Babáo 1-e como eram apenas onze horas, foi dali direitinho ~spairecer no J)erby-Club. Era domingo e havia corridas. · O commendador Ferreira, mal o rapaz deiteeu a escada, foi para o ']Uarlo da fllha, e surprebend1m-a a fazer os taes. signaes interrogativos. Dizer que ella não apanhou .o puxão de orelhas, destinado ao moço, seria faltará verdade que devo aós pacientes l'eilores; npa– nhou-o, coitadinba I e natu– ralmente, a julgar pelo grilo eslridulo que deu, exagerou a dor physica produzida por aquella grosseira manifestação da colera paterna. Seguiu-se um diplogo lerri– vel. -Quem é aquelle pelintra? -vociferou o pai -Chama-se seu Borges. • -De onde o conhece você? -Do Club Guanabarense.•. daquella noite em que papai me levou ... - Elle em que se em1lfega? o que faz? ... -Faz veri,os. -E você não tem vergouha de gostar de um homem que faz versos? - Eu não te1 1,0 culpa: cul– pado é o meu con, ~ão. _.,Esse vagabun<lo algum ' dia lhe escreveu ? - Escreveu - me uma carta, - Quei 1 lh'a trouxe? -Ninguem. Elle mesmo ati- rou-a, com uma pedra, por esta janella . - Que lhe dizia elle r. esta c11rta ? -Nada que me o!fendesse; queri a a minba auctorisação ' . parn pedir-me em casamento. -Onde esiá ella? _:-Elia quem? --A car'ta 1 Adosinda, sem dar uma pn– lavra, tirou a carta do seio. O commendador abriu-a. ' leu-a e guardou-a '3º bolso. Depois continuou: -Você respondeÚ a isto? A moça gaguejou. -Não minta! -Respondi, sim, senhor. • -Em que lermos? -Respondi que sim, que me pedisse. -Pois olhe: prohibo-lhe.per– cebe? prohibo-lhé que de hoje em diante dê trela a esse pe– ralvilho. Se· me constar que elle anda a rondar-me a casa, ou que se corresponde com \'Ocê, a'uando desancar-lhe os ossos pelo Uenn indo(Bem,·in~ do era o cosinheiro do com– mendador Ferreira), e a você, minba serigaita ... a _você.. . Não lhe tligo 111ais nada ... li Tres dias depois desse dialo• go, Adosinda fugiu de casa em companhia de seu Borgt> , ~ o rapto foi auxiliado elo proprio Bem vindo, a !j 1em• o namorado deu parle do di– nheiro ganho nas corridas do Derby. Até húJe ignora o commenpadot· que o seu fiel. cosinheiro contribuísse para tão lastimoso incidente. O pai ficou possesso, mas não fez escandalo; não foi ú policia, não disse nada aos amigos mais íntimos, não se queixou, não desaba fou, 11:io deixou transparecer o se u pro– fundo desgosto. GRAND~ F ABRIGAS, VIGENl~ M. Sa~t~s~o~E~~bato das afamada compota s de fru clas pnraenses 'l't> lflJ)hOtu' , 1 :H-7 9 5, lUJA PAES DE f:A I\VALIIO 59, Tfl ephonc, t :H7

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