A Semana: Revista Ilustrada - 1921, v4, n.147, janeiro

r OCIO 01:10 hrirlla geu;; selP., para oito sem 11111a falha, sem 11111a quebra, sem um momento de Zdllga !... Até nar1uelte dia - lá iam já treztJ mezes-naquelle dia horrível em qne se apercebera da gravidez da filha... . Não fóra P.lle, não fórn a sua 10· tPrveução, a ma defo~a. e ella a te· ria r.~ganado, de ra·iva, de dór, tPl- u-lJia ustraçblhado !. .. . Mas agora é q□A cnmprPhP.!1d1a PSsa ·claj't1sa ! agora que os_ t111ha visto aos IJ1iijos, os miserave1s! Pu· rtera não defo11dAl-a ! Se a culpa era clelle, toda dell e ! Cachorro! ca· c1101..-o ! safado! Se fora elle o caw sador dessa deshonra que lhe fizHra derramar tão IJa~tas, tão dolorosas l:igrima~ ! FOra elle ! Elle, o seu ho· 111em, o.sP.u com11a11heiro, o bomtim a qnem ge ligara, desprewndo lodos os conselhos, a quem consagrara o seu ultimo amor ôH ,nulher gagta, ..uvelhecida, amor mi:do de desejo ci gratidão ! Pois fôra elle, esse negro, repP.llido por toda a 1?entP, a quem déra um lugar na ~ua casa, na sua cama, IH> SP.U coração! Elltt, que transpuzera a porta 'do ~eu rancho, ~"111 uad:i. sem nada desta vida e vivia agora farto, uurna ab~11dancia 4ue. sem ella, nuuca lena conse- 1-(Uido ! Fõra elle; o àesbonrador da ma Olha, da' crt>ança que em pe11110· ua amimara, acariciara num liugido. n•pugna11le amor dP. pai! Cachorro 1 Desaverg,,nhado ! g tudo para que ? l'ara a gozar '? para u gozar, a ella, á nahriella ! . . . elle !... o Joviano !...'· Um novo tn•mor, um arrepio cul mo d.i maleita hrava, correu-lhe d corµo, fa2.eudo-o vihrar. .lleio que se Pr(:lUPU e, eutão, com o sol dardPja11te que lhe clava de chapa 110 rosto trausloruadn, volta· , arn-lh9 as idéas. Virra á foutc procurar a Olha, que estava co11ce1 lando 1wixt>, pà ra lhe dizer que o neto estava choraw do, queria nrnnwr •. . -O nulo! .. . pois em filho dfdle, o sr.o neto? 1••• fiiho delie ? l ••• Agarrada á cerca, ergueu-se. es· piou .. . Ja os não via, aos dous in• la·nrn~; uão via. 1 mas ouvia-lhes o 111urn1urio das vozP.s- das vozes,011 do~ beijo~. Cma praga má sahiu-lhoda hocca. como um vomito. O coração doia· lhe, rnachucado, de uma dor fnrte, dor dl' 111rnca~as. ~o fiw do tudo, o que sentia uão era odio, nem ra iva. nem d11sprezo: Pra ciume ! Ciume, s101 ! tlesatir,ado, louco, cego ! ciume fproz, heslial, e111hora coharde... · A ladra ela filha roubava-lhe o seu macho. o tomem que P.ra sPu, só ( !-l!U a quem entregara~ corpo e ai· u1a,' numa paixão s~rod1a, num der: radeiro rabicbo, violento, d~sespe rado desse de~espero homvt'I rl~ 11 ucm prese11te e teme o auandono · O .Joviano roubava lhe o amnr, 01:10 A SEMA.:SCA 01:10 01:10 01:10 qnc lhe devia a ella, só " ella, para o dar à outra, á desavergouhada ! Por isso empregara tanto ardor, o safado, ein defendei-a, em impedir que expnlsagse a cachorra nQ dia cm que descohrira a sua negra falta, muito mai~negra agora! · E a torpeza C•Jm <1ue PIia rl lssnra quo o laélrão de sua '-irginda1le fóra o João ,\linguito, o pobre que, uess,i tempo, já e~tava morto e uão sn pocl ia rlPfPndPr ! F. como elle a se· cuudara, accu~audo o desgraçado, que, até talvPz tivesse morrido de desgosto, de ~olfrimento por ver de·s· honrada a G.ibrhilla que tanto amava! .Pobre João! infeliz !Como o amai· piçoara no seu odio inju~to e cego! E e~sas maldições todas, faltava-Ilia animo de as atirar agora ~obre !l Joviano ! Faltava-lhe ! Que desgr:i· ça 1..• que negra de~graça 1... Como a enganara esse cabra períldo e 11uw rido! Aqnella piedadA ,pela GalJri' ella, aquelle dó, aquella commise· Felicrnade Benle&de Oliveira ' Professo1•n -tle plano cunto e bnndolin Lecciona em sua resi– dencia, à rua Padre Prudeocio, 155 e casas particulares Pi·eços·modicos l;>iFOR)IAÇÕes ' Livraria 1Jfaranhe11se, de A. Faciola, roa ConsPlhei– ro João ,\ lfredi;i; Casa I Í• ei1·a e Emporio illusical. á trav. 7 de SPlemro, 7 ra('ão, aquillo tudo em paixão 1... - Era 1,aixão ! - ganio por enlrtl os den tos c11rrados... Uma risada, mais alta, da filha, chegou-lhe aos ouvidos. - Vacca !... E o li lho chorando 1. .• O 111110 !... O filho drllP. !... Passou a mno pela lP~ta, afastaw do os cahellos <1ur. a cohriam, em· paslndos de suor. Olhou em torno. Lá Amhaixo, pa· rados, (mmoveis, Prguiam-se para o ar os pennachos cio cannavial do seu raucho, , - Sim! ... sim!. .. Largou a correr, numa desliladn, sem procurar o carrniro. Num mo· mnuto achou-se em casa. · Tudo quieto. Parecia <rue o 1·an· eh,, dormia, pl'1•g(1içosamonte, em' briagarto do sol que jorrava do al\o borbotões de lui radiosa e al'dt>nte. Entrou pela cozinha; foi direito ao qunrtu da filha. Tinha um aspecto siuistro; pare· eia uma fAr:i enrni vPcicla: os olhos eshugal hados chispavam, a l.locca entortada, meio aberta, mostrava os deutcs a11ertados, que rangiam; os cabellos curtos e revoltos eram como uma juba ca'hida sobre a cara feroz. Nu hArço de madeira branca feito pPlas nüios do Joviano - por elle ! por elle ! o pepuenito dormia tran– quillo, ~ocr:,:ado, um sorriso a arre· pa11har-llrn os labios grossos e \'er. melho~, uma lagrima, resto ainda do choro, a brilhar oo ca11to da palpebra cerrada. A Marcolina dehruçou-.se sobre o neto, cravando-lhe no rosto moreno o olhar em braza, flammojaute: - E parece com elle !... Nunca reparál-a nisso, nu11ca ! P:-s· sara-lhe semprA despercellida essa srmelhança. Oode linh'l elln os o· lhos, dantes? onde? Parar.ia com o pai ! Essa circum· stancia mais lhe accendeu o ciume atroz. horrendo ! Curvou-se mais A, l>nbitameute llrn atirou as mãos á aaqrnntn d<l neto, apnrto(H1s numa distensão for• lissima dA mnsculos de aço. A crr auça uão dPu um gemido: apenas os olhos abril'am-se extram" dinaria~1entA e sallar:im para íóra das orlntas; a hocca escancarou-se e a língua sahio, veio cahir sobre um dos cantos; o rosto que se lizara a principio varmelho, Foi-se tornando roxo, de um roxo lívido. Do pesco· çn, no lugar das unhas, brotavasaw gue... A Marcolirrn licotHe para alli desvairada, immovel, sem respira'. çâo, , quasi sem vida, a olhar, a o· lhar... Ficou-sol ... .......... .. .... ... .... .... .... . O silencio, da,1uella hora calma do dia torrido, era apenas qunb•·,do pelo cautarolar da chaleira, a fervPr sobre as pedras dcne!{ridas do fogão e, a espaço~, pelo estridular meta· lico de uma araponga a grilar 110 matagal vizinho. --***-- -E' preciso que elle se comporte. dlaln o padre no sacri•tüo. O tal suJr.lto ern um ntheu pavoro• so. E ficou convenclonnclo : o sncrtstüo ser~ o Senhor dos Passos ; e collocou• se, todo vestido ·de rox:o e de cruz l'ls coAtns, no altar. Entraram o padre e o atheu nn ogreJn. -Senhor dos Pnssos, di2 o pndrc, nllo ê tou desejo que este' Inflei se converta'/ O fal so snnto move com n cabeça. O ntheu, aterrado, njoc1hn-se, e põe· se n conressnr : --Padre, os tllhos ela mulher do. sncrlstiio silo meus filhos... - CT!o ! ' cliz o eacrlstüo ; si eu fossl o Senhor elos Pn~so~. qu~hrn,·n-te ne .tromba~.

RkJQdWJsaXNoZXIy MjU4NjU0