A Semana: Revista Ilustrada - 1921, v4, n.147, janeiro

J -OS- CONTOS - 1- - ••*•* * . - DA- \ SEMANA~ ,, , Ao topar com o Joviano e a Ga– briella ahraçados, muito unidos, aos beijos - uns beijos quentes, lubri– cos, chtJios dl' paixão, cheios de vo• lupia, - a Marcolina senlio ve·ga- 1·P.m-sr-lhe as peruas, como se lhe houve~sem dado, nas curvas, uma paulada rnullo forlP. Ajoelhou e. com os braços P.str n– didus, aparou o IMSO do corpo que pendia para a ír<'nle. Aga rrada á 1-(rallla rasteira e bas– t a, escondida alrar. da cerca de 1111a– ranlã , cspr~ilando por 011ll'll dous páos, com os olhos lixos, parados, - muito a hertos, muito seccos-olhos de Jouca- /icou para nlli, bestiali– zada, a ver rle 1011µ0 os dous, al11Pi– os a tu tfo, A11l rPgues apeuas ao sou amor cri minoso. l.!:stavan, ~•rnlados e111 baixo da 111 :i ngut'ira grande, da fo nto, rama– lhuda e copada. A agua descia, ca 11lando. numa cad wei ra fraca, 11urn correr vadio o mor1.1so. outeiro abaixo, salla 11do, <1 rsvia11do de po•Jras, corcov11a11rlo, vi11ha cahir numa hacia natu ral, ca– va:la 11a Lerr'a vr rmrlha Alimo, a, cnhorla de mu~iio P avr. ncas, soguill d•' Jlois por um vallo estreito, lade– ado de pitangueiras e murt,,iras, até á praia, oode morria espalhado no rL;icho da Agua Branca. A cerca velha por trnz da qual a Marcolina c~prnllava era de uma roça ahn ndonada e ficava a uns qua– renta passos da mangueira. Fa lavam baixinho os amantP~, numa voz sussnrrnda, cort,,d a de sm11iros, meiga; tinham os_olhos esbrazeodos e as caras, os peitos, e os corpos unidos. Era um mulato reforçado, ell-r, • padai'ldo, cheio dA corpo, cahello curto, bigode arrui vado ; alia, bu· nila, petulante. aprzar da cõr ama– rellada do rosto salmilhado de ~ar- J. BAPTISTA COELHO (João Phoca) \ BICHO-CIUME ••••• 1 d1s, ·co!·po esbelto e esguio, collo farto, crn ta li na, cabellos nei:ros ondeados, cahidos em duas trança~ curta~. Falavam baixi nho, docemente e, alto, muito alto que ralassem não lhes ouviria aq palavras a Marcoli– na, qu tt, ao cahir, SPulirn como pa– rar-lhe bruscamente a vida e o co– ração. Olhava sem ver; linha n ma– nr.1ra de quem escuta, mas era como se lhe tivessem entupido os ouvidos; as fontes latejavam, em pancadas seccas, do lorosas, como martelladas 1iare~ia que iam arreb1rn tar; mai r,isp1rava, e o corpo sentia-o rnolhn• do de um suor frio, viscoso, qu tt lhe ensopava as roupas. Ficára id io– ta, Psluµo nicla, 11uma prostração. De repente tonteou : um trumpr convul vo_ correa-lhe as curn rs; os hruços nao puderam mais suster o lr?nco, afocinhou. Numa grandA cnsfl, demo rada e lr•rri vrl sobrcvefo o choro, em uivos lento~.' soluracln n_m choro silencioso. ahafadu ' hai2 xmho, muito baixi nho. A car'a en torrada na grá111a, fossando, rnor– dnndo a lr rra esbrazeada o rlura quedou, di> hru~os, esti rada ao -i;oÍ arrian te do meio dia, hirta, immo– vel. N:w se apt•rcflbia cio qnr passava e111 volta. mqs, como numa lPia nnormn tpw se fos~e desenroln11cln á sua frentP, ia vendo, claro, niliclo. rm1nimado. revivido, o sou passado todo: · " A sna vida rle oulr'ora, piacida o serena até ao dia da morte do Low renço, sru primeiro homem, pai de Guhriella. Fõra um rnde golpe -esse, longamente, sinceramr nle cboraclo em dias máos, dA~r speradas noites. Essa morte lõra ,toda a sua dos· graça ! Os tempos corriam pcssimos, ing r:ilos. Para ganhar o pão, o sustento si> u e da pPquenH, quanto sa· crifir.io , que duros trahalhos, c1uA hrutac•s canseiras ! Oavn dia~ no ffing•mho do Ga nhe· ma P., pelas tainha~, fazia parle da campanha da rede grande do Gnay· uba. Fõra no Engenho que coo ccero o Joviano. Nini:uem gostava delle pelo veso anliiio, i11slinclivo do~ c~içáras_ de dcsc~nflar da quantos nao haJam nascido na praia na· uellas cerc nias ' q a , •. O Joviano er.1 de Santa Catharlna P, para mais, não era branco. Apparecera alll, pedindo traba· lho, fugido da cidade com m11do da febre amarnl la que matara tres companheiros do palbalJOl3 em que nave::ava. · Maltratavam-n'o toàos, lodos, sem oxcepçiio, no Engi! nho. Fez-lhe pena, no ·seu bom cora · c;ão, aq uil lo ; pareceu-lhe injusto o d<Jsprezo que mostravam pr lo polJrA. Entrou a tratai o coi:n piedade, com ca rinho mesmo. a ouvir-lhe as historias da sua vid a a,·enlurosa du marinhei ro, do cousas da sua turni . O Juviano chrgava-se muito por.i rlla, numa humildade, numa grali · dão d11 cachorro alfagado. Foi Pnlão que começaram os 111ci.ericos, 0 8 diz'que, di z'qa r. Dn r::ii va dellPS, só dn rai va dos hisbilhoteiroR, enlrPgara-sc .io ro· paz um dia e d'ahi pa rtira ac1uella ligacão. Ueu~ do c(•n, o c111e ~" dissera 11:i pra ia! Era un~a lo11c11 r:1, uma ca he· çada ! nffi rn,avrim rm róro. D<'ixa ra- os falar. Nunca ti vera occ:1siàc> dr> se arre po11rlcr. Bom até alli, 11 111u lato 111111ca lhn dera o menor, o mais l!•ve de~goc;lo. Trabalhador como poucos, 11 casa, desde que para alia onlrara, pros· perova: tinham a sua roçazinha do mandioca quo lhes dava os stms viute e cinco alqueires: elle lenhavo e la ven rter á cidade, o mangue e mais legumes e vr rtlu ra~, ~las 11fio era só iSR(I; tinha por ella um cari nho respeitoso, parecia IIIP.Rmo trr-lhe amor sincero. E o que mais a commovia era a fó 1 ·111a por que tratava a GabriPIIO, r um ternu ra, com meiguice, dolico· do, amoro~o como um verdadeiro pai. I~sn clura uta dez annos e tanto, à eRde o dia da ligàçào- linha aGa• 'felepboue, 1 347 Oli, HUA PAES DI~ CAR\'ALUO 69 . 'l'ü l C)lhOll<', 1:11 í

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