A Semana: Revista Ilustrada - 1920, v3, n.131, Outubro

!: coitos "I ·, SEÍANI I L .J Antes de entrar no la rgo, Er· nesto, por um desejo doloroso-- de evoca-r, desviou.se para uma das ruas la tteraes, a ver a casa onde fôra a sua escola prima ria-velho cazarão ensombrado pelas man– gueiras ç!a frente, a onde o papae. o lev !l.ra n\lma certa manhã dis tan– te !... Ai! quanta saud'ade ! Ma is adeante moravà a Rosa lina-a mo– rena que lhe puzera sobresaltos di– vino~ na -alma virgem, prometten• do-lhe paraizos de rosa,s. Mas que dt>.cep!:.i'íO o esperava ! ~o Jogar lia escola, erguia•se um sobrado vis. toso, os bnixos occnpados por um botequim, todo illuminado, ele on– de sabia, com estrondo, um t.nnml– to de gramophone... . Ond'e esta– riam os companheiros de então? Pon que alma anda riam rola ndo, em crepUJSculo vlolaceo, os olhos da Rosalina ? Nas suas linhas geraes o lar~o era o mesmo; o seu as pecto inti– mo nc emtanto, soffrera muda nça radical. Por entre alas de manguei– r as, fusina ndo no fundo tremulo e bmnco da luz electrlca, pay,sngens lunares de sonho - automovels chei9s da uma alegre multidão cosmopolita, desciam e subil;tm ,bu– zina ndo a s duas syllabas fanhas do aviso laconico; e de ,seguida os bonds pasavam, zinindo, a arran. car na sombra, no alto, grandes lascas d 'esmeralda . Comidos peln trova, nos bancos ma rginaes ,:los pa,sseios, vultos rembra•notescos im– mobilisavam-se em ankilose d'ex– tase, ou tinham gestos vagos que m1:1rgulhavam na zona de luz. Uma atarefada. e soffrega mul– tidão se agitava, risonha , rumore– jan te; a luz cynica dos globos ele– ctrlcos cabia-lhe em cite.lo ,sobre as, attltudes inquietas, numa reporta. go impostor a de fita clnen111togra– phica. Tremulo, canhestro, o cora<:ão a pulsar-lhe d~scompassadamente - .Íifrnesto olhava a ,sua amada, a :snn querida cidade, que tão ing ra– ta e !Ilsolitamente o t rnh!ra. E lle ,sempre s onha ra preflgurnndo-u, la– grimosa, na attitude quebrada e desra lleticln ele qun ndo a deu:Ci1·a ,, Terencio Po1·to --------·-- ULTIMO .BOHEMIO ****** ;I . ..E chorn, como Jeremias, Sobre a J erusnlem do tantos sonhos ... R. CoBB!lA. Ao Rocha Moreira \. (Conclusão) por uma tarde clnze.ntn de chuva : durante todo o tempo ele ausente. anteviu-a a ssl:m, 90Iorosn e fiel ; e agora, e, agora que, soffrego e an– eioso, ,lnha a tirar.se- lhe nos bra– ços amorosos e caBtos-encontrnva– a envolta pelo turbilhão acanalha– do e folgazão de amores ruidosos. e fa cels, toda entregue 9. suprema de– licia de ser bella, de ser moça e e ele ser adorada . .. O café jl\ não era aquell(' rE>tlro penumbrado, caBulo de 'chime.rns aznes da bohemla sonhadora do seu tempo ; o jarcllm no lado onde t111l– ta , ez goz!\ra C'rcpuscnlos lnoh·l– da-vels, dE>.sapperecera pa ra dor lo~ gar a um cinema, !\ por ta do qual se apinhava multa gente a querer apre ciar a sessão. ·As meslnbn.<; do terraço enchiam-se de povo ; em lo. gar do ,·eTho :íldlytheama ngor11 orgulhosamente pompeava o Gran– el-e Hotel, sumptuoso e alegre. 1',m cujos terraços ladrllbados e am– plos centennres de, pessoas tomn– ;am gelados, gozando nquella cl– ,llizn<:ão e a noite aclomn il. Artn. an te. onde. f ôrn uma casa suspef– tn de qivolagem era ont ro c•l:u,ma obedecendo a esthetlcn modr.mn . n linha e n fôrma cantando um poe. ma architectonlco. Dentro a or– cbestrn atacava uma vrtlsa da mo– da, apre.cinda pelos que aguarda– vam a hora cl'lr esthenia r-se na convulsiio epileptica da vida, tor– <'ida peln visão vc,sgn dn casn Pa– thé. Ernesto, a almn snngra nrto J)E>ln trahi!;ilO brutal, fugiu dnlll e foi nme.senda r-se no kiosque fronteiro, sob n ramarin farfnlhante das mnn. guelras. Sõ elle uüo mudava, con– servn.ndo-sc, no meio daquella transforma<:íio continua, a sua fel– Giío typlca de outros tP.mpos. Um rapnz g1•ave a ttencleu-o prompta– meutP, trnzendo-lhe cerveja. Elle. entuo perguntou pelo Tranca, o do. no antigo. O caixch'o olhou-o com E',<ipa nto " depois ele a lgum tempo clisse-Ibc qne não o conhecia; tal– vez o soclo, que viria fi mehl noitP. soubef:lse ... 1D E rnr.sto ficou-se nlli, perdido rm rcmlnisccnd ft s grntn!;. O Tranca, era um portuguez al– to, de mtrlz aquilino, dol,s olhinhos de coruja rubrlcando-l11e no rosto nmn Je.genda traglca. Era um gran. ele amigo dos bohemios e o Sylvl– no dizia que elle era o corv'l de Poe encarapitado ~m cima do kios– que ... " Subitnmmoo Ernesto sentiu um calafrio : a passo, grave e pausndo, filhinho ao hombro, mulher a ilharga, vinha o i\Ioreim Lima, ve– lho e melancolico. Pas sou, mais a fnmilin, sem olhar sequer pa ra os lndQ§, lndifferentt>, cabisbaixo..• Gn- &'í.rn , enchera-se de filhos e ia nlli como um burgue.z, tnl, ez di– vertir-se um pouco, e gozar a noite forra, clle o prosador sem igu al, o hoh~mio incorl'igi.vel que tinha horror ft vida orde.nada certa, que clcflue fatal éomo uma conta de sommar . . . Um oli\ meu velho! acordou-o ela reviério : o IDstacio de Almeida pnllirlo na roupa <te !neto, e.stav,; defront<-. dt'lle, n sorrir: a bra<:ar 11m– se hmt:!n:nente. El rm(J nnnto hehlam. foram t ro– Pando lmpr<',""ÕE's. rememora ndo l:ns t_h1hnm morrido ,outros cle!lap: pnrec>1do. almln outros ca"'nd..... ElstRc>lo estava acabado; Bob O bf. gode triste h!l 1·la a historia ele <!ois ltlstro~ ile desenca ntos. Elle mes– mo o dl;;se, com amargura: - Tia de:,; a,mos que me dMpren– dl do me,11 sonho, e venho rola n– do pelo nzul ... Dc>po!·~. verificando horas no re. logio el e ouro, Ievnntou-.se e clespe– dlt1-~ .: -á.cleus, menino, vou p' r'o jor– nal, estou na hora .. . 1D pRrtlu, a– gitnndo a be-ngnl!nha de junco. Pouc>o depois a1iparece11 o Si– mões P roen()il QU(l o nbrn<:on tam. bPm. Pouco muda ra, alndn ern a m!'smn c1'eatn ra nlta e elegi,11·1. o-. f'i h r-s p('nnujnclos ele sombra, a h_oc·rn dP:-<c-a hida nnru gesto 11<'11;a – t1rn de clel"alc>nto. F n rto de bohcmia, ln casar em brr,,C'. Recusou n cerveja e cha– mou um rnpn:,;luho qnc , euclia flo– res numn ltttn cl'<' zinco, 1111ra 11<l – quirir r o~lU! e n!1~rlic11s pn ra a uoi- 1, 1 1

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