O Ensino Revista mensal de pedagogia, literatura, artes e officios 1918-1919. Jun-Dez
O ENSIKO 5 Fleuriberto (dfri_qinclo -se ao com– panl1ei1'0):--Bom dia. Vens do cam– po? (admirado, surpreso): Causas– me verdadeiro espanto: á tira-collo, trazes a pasta de liYros e, nas tuas mãos, bellas, humiclas, prrfumosa~ flôres. Colheste-as n'algum jardim 'f! Alexandrino (risonho, anuivel): Yenho elo campo. (fazendo wn gesto brejeiro): Fui p'ra gazeta. Compre– endes: sou crea nça, gosto de bri11- car. (sério ): Além de que, a manhan está tão linda , sob a radiosa bell0za e.te um céu tão azul! Tudo aos meus ouvidos cz:.ntan1: a agua dos corrngos e das Contes, o vento através das arvores. Pelos campos flôridos, doirados pelo sól, creanças, Eelizes e contentes, grita– yam e corriam entre as hervas al– tas. Quis gritar, quis correr , quis ser feliz, tambem. Sem duvida, pe– quei, fugindo ás li cções; mas, con– l'Psso, sómente um dia de vadiação, meu amigo, não faz mal nem pro · judica nin guom. As creanças go~l::un tanto de brincar. Nunca fizeste ,r;a– .:elas'( nunca fugiste ás li cções~ Fleuriberto (roma voz finw·, 11111 m· de censura n'olha1· que uril/l(l· ra): Não! nuncu! jamais! O tcir,po passa e a vida é tão curta. Saibamo~ aproveitar o tempo. que ó apenas a propria vida que fóge. célere, atroz, fatai. Eu não to censuro. ~I011 amigo, és muito creança. Xão pro– vaste ainda o trnvo dos fruetos múus da \'ida. Estás na idade em que tudo nos appareco através de LÍm deslumbrante prisma de oiro quadrll dé illusões feiticoin1s, ele mi· ragens encantadoras, de roseos so– nhos sublimes. Tudo sorri e canta. O mundo dos soffrirnentos, o mun– do das tristes esperanças mortas e das adoraYeis illusõcs perdidas, no esplendor dessa idade feliz, desap – parece sob o imperio de mil diverti– mentos enca111'tclores· Aos teus ou· Yido8, mesmo os plangentcs dobres ele um sino que tocasse a defunctos, -rihram aleoTemente, ruidosamente, ' "' numa festiva sonoridade de crystae que se partissem n·atogria do um fest im. Ainda agorn disseste: «A ma– uhan estaYa tão linda, sob a radiosa belleza de um cúu tão azul! » O' so- nhadora alma ele criança, peregr;na alma de illusões . cscut.:1Y::is, num en– lêYO emhovocido, na lithania do Yen– to feral e lia mcloufa das aguas dor– mrntes, alguma ~oisa mais alaáe que apaixonada can<:ão de amôr, amt,r feito de todas as felicidades humanas, amôr foito ela intensidade, d 'aleg1·ia de Yi ver. Alexandrino (fi11iitlw,w1it,· ): Tens razão. Perdúa-mc: :::ou ainda tão crcan<:a. Fleuriúer/o: (affrtt('/): Tambem, como "ês, tC'nho pou<·os annos mais de tua idade. Alex:rnclrino ( ad111irado, algo curio~o ): Quem te ensinou a falar com a gravidade eircumspccta de um Yelho sabio aust(>ro. experiente obs0n·ad01" das coisas da vida t ~ Flcuriberto : :\ll'lt me~tre, meu pae; a escola, o lar. (ac1111s<'lhando, rm1i1;cwel111e11tr) : E::icuta: que lucro tira:-;te na troca d e tum; lirçües pe– las brincadeiras do campo-,: Já te cfo;se, repito agora: O tempo fóge e a vida(> tão('llt'ta,,. SaiiJamos apro• ' t •
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