O Ensino Revista mensal de pedagogia, literatura, artes e officios 1918-1919. Jun-Dez

O ENSINO 71 p1·esumida civi liza~f1?· Os Judeus eram o povo ehiit.o; os Ass1r1os e ram os donos ver– <ladc iros do mundo; os Gre gos chamavam ba rb:uus a todos os dema is povos; só os Ro– ma nos tinlrnm ii reito ao imperio .. Em quanto isso, insLlitav:tm uns aos outros com os proprios appe llido : ladinos, vanda)o_s, o n-res, a la rves, b11g res . .. s110 nomes o-enttl1- cis, tornados e m injmia. A phi lolog ia g·er– ma nicn, ao se1•yiço do puugermani mo , deriva slaso, de escravo . Nos tempos modernos <\ a mesma loucura: o orgulho hespanhol é sem limites, a arrogancia fran ceza de~medida, a a mbi<;ão ing leza infinita, a insolencia a l– lemã excede a qualquer qualificativo. E não é a gentalha dos mal ed ucados, que propa– gam taes clisfo tes, si"10 as forças vivas e agen– tes da uaç[v,, os eclucadorc della, que as propalam e por ella fazem assim as des– g-raças do mundo : foi aque lle mesmo Fichte, pedagogo e phi loso pho, quem pretendeu que a lin.;ua h.ll emã, por ser pura, matriz das vu– t ras, devia ser a unica, pois que o povo alle– milo e ra o u nico 1•0Yo, o povo simplesmen– te, po1· que alteinanidaclc ignifica todos os homens, isto é, lmman i<lade: só all emiLr.s con– tam e porta nto os outros povos dev iam des– ap pa reccr. Fichte C',crevm isto em 1808 : clahi pa ra cá o tom niio variou, nos educado- 1·es r: nos educandos. e dou nisto, ne sa tra– gedia a que as ist imos e da qual até nos obriga a loucura solta no mundo tambem a se rmos com parsas. Ora essa megaloman ia - qt1e é como os technicos chamam ao delírio ele grandeza– nem a.o menn · é 0 da s raças apuradas: não !ta povo selvagem ou infe rior que nào se– ja como e&ses J ndeu, , A ~y rios, liespnnhóos, ou All emií.f:s: na Me lrme ia, na Hotentothia na Papuasia, na Rondonia . .. Pura n[to sai1'. ele casa, basta le~?rar que os Guaran ys cha– mavam II seu 1d1owa abanheenga, isto é, « língua dos homen , dos guerreiros>, os ma is altos elogios que se podiam da r ; os tu– pys, seus parentes do 11orto, tinham a propria ,como a < lingua bôa > uhecngatú,; as outras não prestavam, nrw flram pu ras, como é tam– bem o ali emão ... E str, selvagens convinham em chamar ~os 06 , o povo inimigo, Tapuyas, que quer cl1z0r <e bnrbaros >. Os Cnxiuauás de Capistrano de br n, lá cio confins cio Amazonas, fa lam a t.r:a- lm-ni-ku-in, que s ig nifi ca < a _liu g na. da p:en te verdadeil'a », da « gente frna >. A gente verdadeira deve ser n elo unico po,·o, ou o po vo eimplesmente, como queria Ficl1tP. N'iío sito eloquentes essas -coincidencia '? De todos os tempos, e de todos os povos é pois, um velho e vulg;ar prejuízo ; é um phenomeno de ethnog raph ia , yue revela, fraquez a psychologica-n ausencia de sen– so critico. I ito ha duas morno , uma para o individuo, outra para os indivíduos : hn ape nas a mora l. Chamaríamos doido ao ho– mem que sfl dissesse o unico digno e capaz, entre todo:;, o senhor e o clono de tudo· consideraremos insa nos tambem os homens, ou povos imbuídos dessa loucurn coll ectiva que os leva ás geerras ele conquista, de supremacia, d(\ domínio, cm homenagem a uma superioridade delirante, que se cuida com direito iL vida e á morte dc,s povos despreven idos. Ora, a conserva~:ão e a exal– tação dessa barbaria primi tivn é devida , nos civilisaclos, exclusivamen te, á famosa edu– caçf10 nacional, ao menos ao errado ende– reço dessa educação nacional. Pr1winamo-nos, pois, contra essas affir– mações Yaidosas cio patri oti smo insensato: o Brn, il é o paraíso torreai, o mais rico, o mais lindo, o mais prospero paiz do mun– do. . . o bra ilei~·o é o mais forte, o mais intelligentc, o ma.is invej ado povo do mun– do . Dahi viríamos, dada taes qualidade p resumidas, a nos acharmo com os direi– tos co rrelatos, con tra to do o direito. E de– pois, nada di sso é verdade ; e que o fosse ou o seja alg um dia, não é nos gabandCI. que chegaremos a ser gabados. E', ao en– vês no gabando . que ficaremos atisfeitos no que e tamo , marcando o passo, sem es– timulo para marchar, porque temos (, olho no e pell10 de uma vaidade, que nos con– tcn ta. A defesa nac ional, que devemos e va– mos preparar, não visará, pois, nenhum en– timento ele predomina.ncia, justifi cado por uma upposta superioridade, qur ainda não temos, ou que só teremos num dia long ín– quo, com esforço e pertinacia. Nfto ha ra<;as ,in feriores se não as que se nào adaptam á civilisaçr10; silo superiorr.s as raças que se · mostram dig nas ela civilisaçi10 ... Civ il isa– ção, que será definida a ,lomestica<;ão do homem, fera bravia como as outra~, sub– missa pela e?ucaçl10 ao princípios da or– dem. ela eqmdade, da tolerancia, para o tra– b~lho, a prosperidade , o con forto, as scicn– cia· e as artes, que se re umem nesse ideal humano - a humanidade. A de~esa. ll!icionnl que devemos preparnr não cub ,ç~.ra nt1nlrnma co11quista, poi que nos so~eJam t.errns, ainda incultas e até desconhecidas, nem provento nenhum

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