O Ensino Revista mensal de pedagogia, literatura, artes e officios 1918-1919. Jun-Dez

... O ENSI O 35 EM TC)RNO DA HISTORIA C.A.L.A.B.A.R. A historia, ou antes , alguns his– toriadores têm accusado a pessôa deste brasileiro, pelo facto de ha– ver passa do das fil eiras portuguezas para as da Hollanda , quando da in– vasão em Pernambu~o poL' esqua– dra deste paiz: Neste gesto viram representado o ignobil sentimento da trai ção, e dahi o motivo de lh e malsinarem o nome ha seculos, como si effec tiva– mente nesse proceder intento tive– ra Calabar de trahir o compromis– so das s uas convicções ou id éas, ou o promettimento ela sua pa lavra. Tal n ão se dér a, po rem. A culpai-o, dever-se-ia tambem accusar os brasileiros e portugue– zes que acceitaram o governo dos hollandezes ( 1auricio de Nassau), vi vendo todos sa tisfeitos debaixo da liber alidade, tolerancia, espírito de iniciativa e justiça deste conde, o que não se dava s0b a jurisdicção das auctoridades portuguE,zas; a cul– pai-o , seria incriminar egualmente aos filhos de Portugal que es tabele– ceram rela ões commerciaes com os descendentes dos Paizes-Baixos . Os phenomenos , q uer os de or– dem physica como os de ord em mo– mora l, obedecem todos a principias determin ados e especiaes e, nas le is de desdobramento ou successão, na– da escapa ou póde fug ir ao domínio natural das coisas .. . Si os l10llande– zes souberam cap tar a confi ança dos habitantes do Iogar, visto terem do– tado a cidade de desenvolvimentos os mais grand iosos e sobretudo uteis; si todos lucrando estavam <la II • convivencia daquelle povo.qual ara– zi:io de increpar a Calabar de um pro– cedimento que não fôra unicamen– te seu, porque o era da maioria ? O que alcançara Domingos Fer– nandes Calabar, numa antevisão de acontecimentos , não o perceberam outros do mf'smo modo? A este guerreiro e a muitos elos seus companheiros , seduzi am as· cond ições de bem estar e o r egimen de liberdade, tanto assim que, des– gos tando- se Maurício de Nassau cóm os diri gentes da Companhia das Indias Occidentaes, em face das ambi ções e exigencias descab id as des tes, dern ittiu-se por isso o titu lar, e, sendo o governo tran smittido a hollandezes intolerantes e cubi çosos, sacrificando , annull ando toda a obra majestosa de Nassau, r ebellaram • se os colonos, e a insurreic;,ão alçou o collo, domi nando inteiramente o coração dos patriotas . . . Queri– am uma patria livre, ao radioso sol da egualdacle humana! E o proprio instin cto de conservação nos induz a que não nos subrnettamos ao ju– go de quem nos maltrate e deprima. Calabar não foi traidor, e o res– ga te do seu nome, a libertação da sua memoria de sob o peso de tão infamante injusti ça, es tá no suppli– cio por <JUe passou- indo ao patíbu– lo. E era necessario quf\ o fo sse!– par a se egualar aos martyres que, soffrendo muito, aos posteros se en– grandecem e se recommendam pela jus ti ça da Historia e pela verdade dos factos. Sylvio Nascimento •

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