O Ensino Revista mensal de pedagogia, literatura, artes e officios 1918-1919. Jun-Dez
O E SINO 31 ______,~-------.,,..,.~~,_.,__.__~~ i1s creanças de vivo brilho intellectual nf10 o perderem, antes o augmentarem com o dese nvolvimento g radual do cerebro e suas correlações, graças á instrucção opportuna e adequada. De todos os tempos são esses clamores: j á Petronio, ao tempo de Nero, fazia o mes– mo reparo, que nós pódemos fazer ainda boj e. Quem de nós uíio se recorda de me– ninos prodígios, nossos companheiros de aula primaria, uu de collegio, restituídos á vida t:omo res íduo despolidos daquillo que eram, e que marcam, adultos, o passo de medio– cridades? São frnctos pêcos, aborticios, mas– sados, exprimidos, amadurados á força. sem &umo e sem sabor, gmças ao regímen pe– dagogico da cultura intensiva que lhes im– puzemos. Cedo de mais, os forçamos sem descanço, com a vaidaàe propria açulada , e a nossa, de paes e parentes, ainda mais . .. e esfalfa.dos, se extin guiram , apagando-se numa tisteza pobre ~ desconsolada. O nosso fito ambicioso, ma, insensato, foi enriquecer-lhes e ornar-lhes depressa a intelligeneia, sem attentar que devíamos primeiro ape na, desenYol vê-la, dep!1Ís pre– para-la para a vida, para todas li eventua– lidades ela vida, e _só entl.1.o, perfeito um h omem, conseguir delle essa coisa muito fa– ci l, uma acquisição techn ica ou profissional corn que ganl1 ar ,1 mesma vida, com lustre e com honra. Os programmas, os li vro , o regímen es– colar para a educação intell ectual, ficam assim endereçados. Primei ro a escola ele– mentar, simplesmente educativa, como estufa bem regulada que pcrmitta ás jovens plan– tas crescerem e se de envolverem normal– mente por meio ele noções e principalmente de praticas instructiva . Depois o collegio on gymnasio, secundario , ainda educativo, mais amplo, mais gera l, acabando o desen– volvirnento, preparando e mcthodiz:rndo as acqu1sições geraes, com as quae toda r..s appli cações da vida são possíveis e pratica . Finalmente, a educação tcchnic11, e .Profis– sional, endereço pragmatico de uma perso– nalidade feita e capaz das utilidades da vida. Sem esta succe · ão gradual, com a fu– são dessas phases incotlciliavei , cnm a sup • pressão claquellas que se afiguram dema– siadas, é o mesmo que pretender alg~iem abrigar-se a um tecto que n!°LO teulia pa– redes ou pilares que o su_stentem, e que parecem somenos, ou que não tenha alil·er– ces, que se julgam dispensaveis, porque não si"to vistos na sua missão fundamental. Se no correr da vida oito tivermos occasiào de applicar uma demonstração geometrica, que nos custou a deduzir, ou um facto historico que g uardamos com esforço na memoria , nem por iss!1 ell es nos terão prestado me- . nos beneficios: nfw é pouco obrigar á ac– ti vidade uma memoria morosa ou exercita r um raciocínio diflicil. Não são no vidades, áquelles que estu– dam estas questõesP esses u'uismos : convem repeti-los porque, num paiz em que de qtta– tl'(I em quatro annos se fazem reformas de in,trucção, nem sempre os legisladores 011 os seus conselheiros alcançam as razões dt-. ser de taes e taes estudos. Aliús niw é só entre nós que está em continua pendencia a questão do latim e das bum:midades clas– sicas, chamadas inutei~. Basta que ell a continuem a ser humanidades, isto é, co– nh ecimentos que nos afastam da barbaria e nos humani zam, nnma cul tura digna. desse uome, para não deverem ser supJ:>rimidas ou sequer deleixadas. Uma questi10 ma ior ainda que essas mes– mas dos methodos e phases da educaçfto in tel– lectual é a formação elo:, educado res, sem as quaes nada, mas absolutamante nada, se póde fazer . De nada, nada se faz; quem não foi bem educado, não póde bem educar. Não se improvisam, por nomeação, educadores . A pedagogia é uma sciencia e uma arte, diffi– cil, que txige aptidão e tirocini o: tempo Yirá, estou certo, em que ell a será mai . 0~1 melhor, uma humanidade, como a hy– gwne, porq ue cada rapaz ou rapariga q ue ,;e formam para a vida devem saber po1· educação, como se guarda e prese1:va a saude propria e a dos seus, como se cria e se educa, desde o berço, se não de antes, a próle que un s e outros têm de ter, como o destino maior que nos deu a natureza. Pois bem, coisa absurda e ridicula ! Ainda ha professores que.não aprenderam sequer a ens111ar: devem ser raros e notoriamente desconceitua_dos . Ha outros que não apren– deram a ensrnar, emborG cursassem ases– co las apropriadas: são numerosos, conhe– cidos dos que lidam com ell ei:i e apontados com desvalia. Peor ainda, ha essas escolas apropriadas, que chamamos normaes se– g undo o l.tabito francez, ond se devê ra ensinar a ensinar, mas cujos professores não o aprenderam, e, salvas raras exce– pções, não podem portanto ensinar a ensi– nar: e esses, ninguem os acl1a mal e toda a gente que assim é, e assim rleve s'er ... Toca ás raias do disparate! Carecemos de professores publicos-fundamos para os fazer uma_escola normal, para a qual nomeamos, nao os professores mais capa– ses desse nome, não os mais experimenta- •
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