O Ensino Revista mensal de pedagogia, literatura, artes e officios 1918-1919. Jun-Dez
O ENSINO . 107 ~-~~~~~~~-~~~-~~-~~ mosa , crivad a de es trellas de oiro. Sim, no profundo arqu eamento do céu meridional, de um azul ele vel– ludo quasi negro, scintillava uma prodi gio~a infinidade el e astros ma– o-nifi cos, de uma fabulosa preful– gencia ele peclrarias. A Via --La– ctea , atravessando uma immensa zona do firm amento , lembrava des– lumbrante caminho de opalas pul– v eri sadas- poeira de Ju7, celiflua , que se eliffundisse num lal'go tre– ~ho immiscivel da immensid ade rú– til ante . Obser vando-se bem, verifi– car-se-iam milhões de p equeninas es– trell as , muito altas, muito tremulas, piscando o seu vivo lum e de dia– mante, nos espaços fra gmentados cio sudario zodi acal-as pallidas ne– bulosas, que num futuro aillda mui r emoto , serão a::; g r andes estrellas elo céu ·das nov as idades. Como er a de um inteu o podel' mag ico, essa ful guração bl'uxolean– te de pectrari as accesas ! Pela in compar a ve l magnifi cencia de suas luzes, dir-se-ia ter em alma , sonha – r em . . . Ao lon go da es trad a do Mar– co d a Legu::1 , os pyril ampos, fusi– la ndo no claro- scuro da noi te, pa– r eciam ou tras scin till as zodi acaes, errantes sobre a adorm ecida face da terra par aense. Bern ardo, que de;xá r a de can– t ar , sur pr eso por ain da ::; tar mbe– b iclo n a r eli g iosa contempla ão do p oetico céu es trellado, não poud e abafa r um a exclamação d'eRpanto: -« Enild a, quando w u b.er es que na– d a consegui, h_as de fi ca r constran– g id a a té ás lagrimas .. . Minha n etinha , cornpreeu cl o a tua innocente ambi ão, o teu desejo a rd ente. Uma caix inh a rl e amen– doas . .. apenas essa coi sa tão in sig– nifi cante p ' r a muitos f' tão a r a p '1\a rnim . .. um a cai xinha de arn encloas ,,_ P obre n etinh a, tão mcig::i o di– g na de melhor sorte ! . As creanças não deviam sofl're1·, não mel'ecem o casti go de um Roffri– mento. O soffrimento nem sempre rege néra, nem semp_re purifi ca. A dôr póde ser o crysol que crystallisse a alma profundamente m::irtyrisada , conduzindo-a, por uma send a de luz ernpyrea , até fr celes– tial morada .de Deus ; mas tambem é certo que a d~~r , quando intensa, póde se tran sfor ar num desespero louco . num adio nmenso . Ah ! tudo é in ~rfeito no agi– tado mundo em qu vivemos . Na obr as mais perfeitas empre encon– tramos uma lacuni:\ que, apparecen– do-nos como in signifi cante mas im– perdo avel erro , tentamos, num su– pre1110 esforço inutil, corrijir, polir torn at· irnpeccav elmente perfe ita. A vid a é a con tr adi ção perpe tu a. Tud o é el e uma perfe ição mentirosa, que nos illude e agrada e sedm: , par a logo depois nos ferir ele morte. E' quando ard entes lagrimas de sangue inundam as nossas fa ces lin– das, turvando o aspecto al egre -da vida ex terior que se photographá l'n. vi olentamente n a r etina ele nosso~ olhos curiosos. Quanto é amargo sentirmos o sa bôr do fél, elo travo e da cinza, jus tamente quando p en- avamos que iamos ser mui to feli– zes ! . . . Bern ardo tinh a u n a vaga noção desses philosoph icos conceitos, nos quaes ficavam destruid as as uliima s pallidas illusões el e sua vida infeliz. Pa lmilhand o a longa estr ada de– serta, ia com a a lm a confrangi– da I or profundo en timento de mao-ua , oriundo desse exquesito de– sejo de apressa r a vi agem que todos nós fa7.e mo s por esse plano incli– n ado, em cuj a méta, di stante dos femen ti do::: gosos do mundo , exis– tem có ,·as abe rtas, áv idas le r ada– ver es. Caminhando só, tambem ·re– cord ãr a, nesse tumul tuoso perpas– . ar ele idéas absur das. que brm podia ter tirado, sem ser presen tido, •
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