O Ensino Revista mensal de pedagogia, literatura, artes e officios 1918-1919. Jun-Dez

• 106 O ENSINO t icio q ue sobej aYa das opul entas mesas dos r icos e que, em miseran– clas choupanas de fa mili as pauper– r imas , certamente se ri a fina , appe– ti tosa. perfumada eguar ia ; e, afina l, o cach imbo e ra o confidente de mil sonho , feitos e desfeitos pela pro– pri a f umaça do tabaco queimado , q ue, em tenui ssi mos aspira es ci o va– por es az ulinos, forgiav a compli cada e su btilí ssima tr~m a el e fumo li– geiro-a image n)'fdea lista dos pen– .· amentos que nascem e logo mor- r em . .. Íc. No fi m d essa ta r de el e Dezern– uro, q uem estiYesse ao seu lado, es– curt a r -lh e-i a as mag uas qu e crucia– vam a sua g rand e a lma soffr edora, r epleta de lag rimas r ep !'imi das e de dôres lanc inante~. Cançado ela ex– te nuante jor nada atr a vés das lon – gas r uas poeir ent as . quedára-se em meio do <,aminho, olh ando ac; velhas folh as mortas q ue . e desprendiam d a ,-; velhas e copad as mangueiras . O tomba r da s fo lhas inutdis era um espectac ul o ao mesmo tempo marav ilh oso e tr is tonho . que o sur– preenrlia em estatica e ingenua ad– miração, n um reli gioso enlêvo el e poe ta monj e. As fo lh as, sob a dubi a clar idad e do céu cinzen to perola, rol avam pe– lo só lo poeirento, da ndo fu gid ia imp ressão de mil p a lp ita ntes azas de j api ins mori b undos . E eJl e, as– s istindo ao len to cahir das fo lhas, record ava-se d a lang uidez monoto– na dos outomnos el e Portugal, quan– do, dos arvor edos dos pomares e dos \'er geis das q uintas solarengas, tambem cahiam velhas fo lhas mor– ta'-, cizen b s, pardas, amarell as e vermelhas. Algumas, como az as de oiro fo sco , rodopiavam a esmo. in– do de po is cahir c:: 0L1·e a sua cabeça .de moço , effe i- vescente d as 1 han ta– sias e dos madri gaes el e a inôr . En– tão, ao saudoso r elembrar di sso tudo, com a voz humanamente sen– tida, fr emente dr s incera nostal g ia, começou a entôat· a letra dos fado s queridos ela patria distante. Os ver– sos eram ung idos de uma eloquente naturalidad e, tão eloquente , que nelles parecia v ibrar o que !ta de ma is ingenito no estado de alma desse povo de poetas . de marinhei– r os e de heroes combaten tes: o amôr -saudad e, que é o poema dô · CP-mente melancolico cios corações fer idos: « En niio _r;u. fo nem [1rhll'Cl?lrlo, Dizer adeus a 11i11.r;ue111 : Quem partP lera sm1cladP~ . Quem fim ·m1dad1•s fPm. Uma rnz- (' J/1, que e11 dispe adr,1t.c::, Muitas la.r;rimas clwr('i ; E jurei de nunca mais Dúer wleu.~ a nir1q11r>11t ~. Folhas pardas, seccas, cô1• de co – bre, côr de bronze , côt· de fer ru– gem, enroscadas pela cani cul a, roí– das pelas laga r tas contin u vam a cah ir, profusamente, es trepitosa– mente. c·ob r inclo a esmer ald ina gr a– ma dos caminho . E Bern a rdo, im– movel, saucl ôso e sentimenta l, soJ– ta,ia o seu dolor ido lamento: « Uma •cez em 1p1e r-u d i,·s1' arfr 11s Muita. la,r;rimas l'llOrl' i ; E j w·ei ele nm1ca mais Oizer adeus a 11in,r1w•111 . A tarde morria, suavemente, che– ia de uma extranha e sua ve poes ia. O sól lançava os seus cl en·act eiros fulgôres sobre alguns farrapo_s _d e nuvens, que, d isper sos pelo rehg10- so es.plendôr az ul do firmamento , pareciam rôtos mantos purpureos. No entan to, pouco a pouco, ás r u– bras explosões do s61 poente, aos poderosos encantos da luz cl'epuscu– lar, succediam as suaves tintas aqua– r ell adas do Jusco-fosco, p1·ornpta– mente diluiclas nas sornbrns d a noite que v inha chegando, S(• re1rn e for-

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