Lendas Amazônicas

136 ........................ Viviam bem felizes, sem outra preocupação que a de prover á existencia. Altivos, como todo c:aboclo, apezar de morarem a alguns passos da nossa casa, passavam muita vez sérios contratem– pos, sem, no entanto, jamais r ecorrerem á nossa munificencia. Havia tres dias que o Polydóro adoecêra e a febre não cedia com os chás e as defumaçõe_s que a mulher lhe fazia. "/\ão nos Yinha, porém, pedir remedio para o marido, a quem, aliás, estimava como sabem estimar-st os rud es filhos do nosso bello sertão. A sinceridade do seu aféto não os inhibe de abandonar o enfe rmo ao azar da so rte, se a malcstia não céde aos pri– meiros socorros. O caboclo é fatalista : se tive r de morrer, morre rá. Daí a sua r esignação estóica na i:nmincncia do des fe– cho fatal. Quando se agrava a doença ·e as mesinhas foram já re– pudiadas, os parentes do en fe rmo tratam, immediatam_nte, de lhe preparar os ultimos momentos e prevenir o enterro. Comp ra;n o necessario para o caixão mortuario, as velas que, inYariavelmente, ardem á cabeceira do morto e o inde– fectível café rara as pessôas que fazem o quarto ao doente ou a guarda ao defunto. E' por isso que o caboclo, quando annuncia que urna creatura es tá doente, em estado g rave, usa dizer, com certa ironia simploria: «Fulano está p'ra dar café•. Em casa do enferI?o deseD:ganado reune-se toda a pa– r entella e aí fica, dias e dias, dormmdo e comendo, á espera da morte do doente, a quem faz quarto. De instante a instante, corre o café. A morte sobrevcm, quasi sempre, porque o infeliz nunca mais recebe um tratamento. · Passa-se, então, uma das se nas mais curiosas que é dado vêr . O cadaver é deposto, perfe itamente paramentado sobre uma especie de giráu, da altura de um metro mais ou ~enos. Os que velam o morto sentam-se ao redór, guardando o maior respeito. Chegada a hora marcada para o enterro, o parente mais velho aproxima-se do ataúde, levanta o lenço que ainda en– cobria ~ face do _morto e, em nome de todos, pronuncia, commov1do, um discurso de despedida, no qual são, geral– mente, enaltecidas as qualidades bôas do que se foi para a eternidade. Finda essa es pec ie de elogio fun ebre, aperta

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