Lendas Amazônicas

12 O poéta cantava, cantava mais dolente e melo– diosamente ainda, na ancia de ver baixar do seu trono de prata a lua feitice.ira. O regato, embaixo, marulhava, mésto, e os piri-. latnpos apagavam timidos, medrosos, as suas lanter– nas azues. Uma paixão ardente se lhe acendeu no póbre coração, ao bardo solitário. «Vem! bradou á lua na amplidão, desce ao seio da mata silenciosa, que num leito de baunilha perfu– mada acalentarei, ao som dos meus cantares, teu sonno de rainha! Mas a lu~ fugia desdenhosa sobre a coma das árvores gigantes. Na noite seguinte a mesma scena, o mesmo desdem. O póbre jurutahy entristeceu e quedou-se empo– leirado ao ramo da jarana. Esperou ainda. Quando º. astro suspendeu nos céus o seu disco de prata, suphcou-lhe que lhe acei– tasse a afeição eterna e pura. Mas a lua subia sempre, e elle notou então que a seguia de perto um brilhante planeta a quem a diva sorria docemente. Desesperado de dor e d_e ciun:ie, voou através do espaço infindo e quanto mat: subia, mais se afastava o objeto dos seus ternos amores. Exausto de cansaço, rolou das nuvens e tombou sobre a relva humedecida da floresta. O orvalho da noite banhou-lhe a cabeça esfo– gueada e a brisa enamorada refrescou-lhe o corpo enfebrecido. •

RkJQdWJsaXNoZXIy MjU4NjU0