Lendas Amazônicas

125 que elles se consolem, e não digam que Tupan não se compadece delles. O iapy desceu. Cantava e todas as aves emude– ciam para o escutar. E emquanto elle esteve na terra a cantar, a onça não se lembrou da presa, o jacaré não se lembrou da agua, a cobra não tinha veneno debaixo da lingua, a curupira não batia a sapupêma, nem perdia no mato os caçadores. A mãe d·agua saíu das suas grutas encantadas. A cobra grande saíu do leito do grande rio. E o homem dizia: «O' Tupan l Dá-nos o iapy, e deixa-nos viver eternamente!» Uma noite, a Lua de Tupan já meio dernrada, ai-rasta va os cabellos brancos por sobre a praia. Tudo estava tão bonito, que o sabiá, por primeiro, le\'antou o seu canto, exaltando a gloria de Tupan. Depois do sabiá cantou a patativa, cantou o tem-tem, cantou a saracura, cantaram todas as aves da terra. O iapy as ouviu, e encheu-se de soberba.-Que canto feio é o vosso I disse elle. E começou a arre– medal-os por escarneo. Corridos de vergonha, os pobresinhos escondiam as cabecinhas debaixo das azas, e diziam : «Tupan tu vês tudo ! • · E o iapy cada vez mais os escarnecia. Mas Tupan ouviu o grito delles, no alto do céu, porque aborrece a soberba. E Tupan disse ao iapy: «Como escarneceste as avesinhas que me saudavam, e trocaste o bello canto que te dei, por um feio arremedo, não voltarás mais á arvore que dá ílôres ele estrellas, nem lembrarás mais a musica que te ensinei, emquanto eu não tiver devorado todas as luas , e não der por findo o teu castigo.

RkJQdWJsaXNoZXIy MjU4NjU0