Lendas Amazônicas

119 - Não havia comida fr esca na fazenda e u saí em busca de alguma caça. Embrenhei-me na mata e todo o dia nada encontrei para atirar. Disse commigo: hoj e o curupira quer me pregar alguma peça ! Eram tres horas da tarde e eu de– via voltar para não dormir na floresta. Avisto, nesse momento, no galho de uma castauheira, um soberbo mut1t11l. is ei-o e fiz fogo. O animal rolou do alto, caíndo com es trondo no chão. Corri a apanhar o lindo passaro. Ah! senhor, póde acreditar, porque eu não minto nunca, qua l não foi o assom– bro quando, em vez do 1111ttzt111, encontrei morto um pica-páu1 - Um pica-páu! exclamamos todos . - Pois você, João .Antonio, caçador velho, confundir um 111.utum com um pica-pâzt ! - Qual confundir, senhor ! Posso garantir que ati'rei o 11iutu111, e fo i o cur upira que o transformou cm pica-páu, para zombar commigo. D esapontado e aturdido tomei a altura do sol, marquei o meu rumo e caminhei r ápido para ganhar a faz enda. Andei uma hora ; quand o julgava e tar perto do Curuperé, e portanto salvo, encontrei-me novamente no mes– mo logar d'onde tinha partido, junto ao pica-pcíu morto. Ouvi uma gargalhada pe rto de mim. Os cabcllos se me arre– piaram . Rezei o Creio e11z Deu Padre parti no,-amen te; rJ?ªS daí a meia hora estava a pé do pica -pâu ! O suo_r cor– na-me da fronte. Já eram mai s de cinco horas, não avistava mais o sol, a n01te enegr ecia rapidamente a mata. R esolvi subir no castanheiro formar en tre os galhos um m1tit c7 para passar .t noite. i\Ial tinha apanhado os primeiros _&"alhos do_ castanhei~o, quando oiço pe rto nova gargalhada. ulho e YeJo o curupira. Era um caboclinho da altura d ' um metro, t endo no pescoço um capuz como de frade, cabeça raspada, os pés voltados para trás d . forma_ a ficar o ca lcanhar para a ·fr ente, e os olhos pareciam dois ca rvões acesos. Estava completamente nú. Instinti ,-amente tirei da patrona uma pa– laugueta, me ti-a na esping arda e preparei-me para d fender a vida. l\Ias o curupira ria a bom rir do meu susto. D epois, o que se passou até ás duas horas da madru– gada, quasi não posso desc reyer. Eu ardia cm fébre e uma te rrivel dôr de cabeça parecia que rer arrebentar-me o cére– bro. Um bando de jacamins ve iu dançar cm torno do curu– pira, depois vieram outros anima s. Gritos, assobios, pedidos de socorros ecoavam aos meus ouvidos a todo o instante; e ra um infe rno. P ela madrugada tudo foi cessando, o c1tru.pira afastou-s e deitado no 1nuitfi, com a espi ngarda ao meu lado cu pude concilia r o sonno.

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