CARVALHO, João Marques de. Hortencia. Pará: Livraria Moderna, 1888. 230 p.

90 lllarqite11 de Carvalho lhe a attenção para o rio. Uma pequena cal!ôa achava-se a alguns metros abaixo, junto á praia : Hortencia viu-a na tenue claridade das estrellas que tachonavam o firmamento avelludado. Um grande vulto d'homem ergueu-se re– pentinamente no centro da embarcação. A ra– pariga viu-o crescer deante de si, fitou n'elle os olhos para conhecel-o, quando ouviu-lhe a voz chamando-a baixinho : -Hortencia ! Hortencia ! Ella estremeceu toda, sacudida por grande susto. Curvou a meio o corpo sobre o vacuo _e fugiu vertiginosamente para o interior do hospi– tal, gritando ao irmão : -Vae-te, desgraçado ! Lourenç0 andava arredío de cas:1, teme!ldo que a irmã houvesse contado á mãe o dehcto 4ue commettera. Arrependia-se do que fizera, receiando um rompimento por parte da velha, a quem amava verdadeiramente, apezar do seu dissoluto espírito de irreprimido libertino. Fa– zia violentas arguições a si proprio, no furor do seu odio contra a hediondez que praticara. Cha– mava-se "bestalhão indecente", com a cara toda contraída pelo tédio contra a sua pessoa. Tinha, ás vezes, desejos de ír desembaraçadamente a casa, para certificar-se do que por lá havia a seu 1·espeito. Mas um desanimo logo invadia-o tenaz, perante a perspectiva de uma scena violenta preparada pela mãe. E deixava-se ficar pelas ruas, a vagabundear com um João Ninguem por

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