CARVALHO, João Marques de. Hortencia. Pará: Livraria Moderna, 1888. 230 p.

54 .lJÍwrques cie Oarvai1io to sy;mpathico, ouviu-lhe a carvenosa fala, com– prehendeu-lhe o affectaclo do tom de protecgão que elle dava ás modalidades da voz. Depois, caíu em pleno devaneio, em completa pbantasia. Viu-se a caminhar por uma interminavel estrada arenosa, illuminada pela phosphorecente fulgu– ração d'uma l11a octogona, enorme e irnmovel, que se conservava fixa em um ccu extranho, d'um roxo de lyrio, tachonado de pequeninas es– trellas braMas e ponteagudas como jasmins, ru– bras e redondas como rosas. Elia caminhava so– sinba pela estrada, pisando a :finíssima areia ran– gente sob suas plantas, marginanuo de um lado uma umbr0sa floresta cheia de mysticos arruidos nocturnos, e de outro um caudaloso rio côr de algodão, muito socegado e límpido, reflectinc1o a grande lua de oito faces. Plantas exoticas er– guiam-se- á beira da estrada, -florescendo pujan– temente, exquisitamente, exhalando penetrantes aromas de benjoim e eloendros mesclados com outros perfumes innominados, até ali jámais sen– tidos pelo olfacto da rapariga. De instante a instante, um grande barulho <l'azas fazia-se ou– vir, e B :Jl'tcnchL tinha occasião de ver, atra– nssando os ares, grandíssimos gaviões de duas cabeças e seis olhos-reluzentes e envinagrados -levaudo e111 cima de si, n'um desembestado ga– lope de ciH·al!o de Mazeppa, atblétitos macacos grunhidores, de longas caudas côr ue fogo, as quaes desciam até á altura <las arrnres, a cujas franças fustigavam impiedosamente. E grandes vozes tlt'sesperadas faziam-se ouvir do seio da selva, partindo ue inviziveis gargantas que de– veriam ser ue incalculaveis dimensões. "E's tu a enfermeira nova., diziam, és tu a enfermeira nova 61 Pois bem, has de ver se nos sujeitamos ao que vocês querem. .Aqui ninguem torna re-

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