CARVALHO, João Marques de. Hortencia. Pará: Livraria Moderna, 1888. 230 p.

52 Mar ques ele Oct11·vf1,lho - - Ago ra, ponderou Hor tencia, YOU traba– lbar muito, p'ra ajudar a minha mãesinha do meu coragfto !... A poderosa forga da t<•rnura., - o sangue commurn dos parentes proximos, - impell ia-as uma para a outra. M.fte e fil ha soniam-se com enlêvo, n'uma contern11lagão extatica de me.lan– coli cos na.mora cl os . A suuitas , sem se fall arem senão com a mU1]a e expressiva li ng uagem <los olhares, deram ambas alguns passos, encontra– ram-se cara a cara, uma e outr a recc~bendo-se n'um gran de abrago nervoso e demorado, repas – sado das infinitas <l oguras da emogão produzida pelo contentamento. · Uma grande chuva de luz solar deslisava se rena pelo espaço, caía. n'aquelle mollesto quin– tal de casa tl e famifüt da mais extrema pobreza. As largas fo lhas d'algun e mam'ãoseiros a li pl an– tados rumo rejavam surdamente, embatidas pelo vento fr esco do meio-dia. Vozes de veI1Ll edeirai c1'assaby erguiam-se da estrada, e.ncou~ravan.-_se . no ar com os cantos melaBcolioos dos gallos, fa– zenclo ao lon ge um agradavel contraponto . . Bor– boletas doidas vagueavam pelo ar 1 pairando so: bre a cêrca de acapú, onde grandes e reclondas teias d'aranllas scinti ll avam .com· varias .côres fo rtes, ao transmitti rem a luz do sol ,1travez dos seus tenues fil amentos cendrados. E, apezar d'isso, um silencio de tumba parecia ir empol– gando toda a natureza, reduzinclo-a pouco a pou– co á tranqui ll a inacc ão t1'um somno pesadíss11no. Era a n,pproximagfo d'essas pacíficas horas ele sésta, em que as est!·aclas paraenses emb r~nham– se na mais profunda paciti cagflo, no mais r,,bso– luto repouso.

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