CARVALHO, João Marques de. Hortencia. Pará: Livraria Moderna, 1888. 230 p.
46 lJ.<vi·q,ues ele O<Vl''l)(ilho mente accelerado sob as carnosidades esplendi– das dos seus turgentes seios de mulatinha vir– gem. O seu futuro ía ser brevemente resolvi– do, a palavra do provedor ía fazer-se ouvir. Uma grande ancieda<l e movimentava-lhe o thorax, da – va-lhe violentas palpitagões ás fontes e tremuras nervosas a r.ada pálpebra. O labio superior con– traía-se com estrernegões para a direi ta, emquan– to a face esquerda. repuchava-se toda para a ore– lha invadida de sangue quasi inapercebitlo sob a sua amarella epiderme de mulata clara. O provedor mostrou-lhe uma cadeira e foi sentar-se á sua mesa, encostada á parede, toda coberta de- folhas impressas e requerimentos em papel côr de rosa, de margens limpas e assigna– turas alinha<las sobre estampilhas <le côres gar– ridas. Que se sentasse ali e ouvisse as attribuigões do cargo que pretendia. Hortencia occupou a cadeira indicada com visível acanhamento. Um mal-estar, do q~al participava o corpo, vinha assaltar-lhe o espíri– to, cJando -lhe pequenas e rápi<las nauseas ao es– tom:i,go e miudinhas gottas de suor á testa, onde nascem os cabellos. Era como se estivesse p'ra ali a comrnetter uma grande acgão peccaminosa e da qual devesse c6rar pu<licamente, cheia de remorsos torturantes. O seu mesquinho espirito sem educagão avoluma-lhe o acto ·que estava a praticar, como se o visse atravez de uma podero– sa lente muitíssimo forte. Na sua natural ti– bieza, admirava-se da propria coragem, sem com– prehender perfeitamente como se atrev&ra a che– gar até ali, a dirigir a palavra áquelle homem que, recolhido ao silenci0 da espectativa, com o queixo entre as palmas das mãos e os cotovellos fi xos á mesa, investigava-lhe curiosamente o ros-
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