CARVALHO, João Marques de. Hortencia. Pará: Livraria Moderna, 1888. 230 p.

42 JJla,rqttes ile Ocwvcillto vo, muito vibratil e forte, capaz ele restaurai, tu– do ao· seu poderoso choque. Carregadores passa– vam com tal>oleiros cheios de mercadorias á ca– lJC'ça. Oosinheiras malandras regrnsiaiavam do mercado, sem attentarem no adeantado da hora com um cynico desprezo pelo estomago dos pa'. trões. Acres emanações de cachaça da peor qualidade safam d'uma taberna á esquina da rua, na confluencia d'esta com a praga. . Enveredou Hortencia pela rua Nova, se– guindo-a em toda a sua extensão. Foi safr ao lado das paredes de uma eno1•me construcgão em andamento, onde trabalhavam algumas cente– nas de operarios nús da cintura para cima, ex– pondo ao sol a lisa pelle das costas. Seguiu para o largo de Palacio, que atravessou trans– versalmente, caminhando por sinuosa verêda tragada entre forte capinzal que crescia na pra– ca, E logo c!Jegou á calçada <lo .Collegio. Esta– va a poucos passos do largo da Sé; defronte do · e<li:ficio do hospital. O hospital! Esta palavra resoou-lhe no cerebro como o écco doloroso de um enorme grito çle angustia, exhalado pela il– limitaàa garganta da humanidade soffreclora. Tinha para ella um sentido especial, f6ra da ra– zão commum dos termos usuaes,-com a signifi– cação indefinida t1e uma entidade mysteriosa e i,upressionaclora; <lava-lhe á meute a sensação JJlOrnl dos males da socfodade, como se ella de– resse recebei-os e supportal-os, para attenual-os caridosamente por sua parte, cumprindo a sina dfotada pelo destino ineluctavel. Passaram-lhe repentinamente pelo .espírito, n'uma velocidadç solícita e phantástica de mirobol-ante kaleidoscó– pio, mil scenas de sangue, d'cssas que se dão em todos os hospitaes e casas de saúde. Eram amputngões de memuros esmagados, dilacera-

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