CARVALHO, João Marques de. Hortencia. Pará: Livraria Moderna, 1888. 230 p.

138 Marq11es de Carw1ll10 olhar, fitando-o no ceu, onde um crescente de lua recortava-se no azul-escurn do firmamen to. Mas um barulho de voze altercando fez-se ou– vir a curta di tancia, para a rua da 'l'rindade. O mulato quiz r etroceder, para não o verem. Lembrou-se, todavja, de que a sua estrclla talvez o levasse ali-par a ap resentar-lhe o riva l, dar-lhe occasião ele liquidar contas com elle. D eliberou ir adeante, bem disposto a se r o me. mo Louren– ço d'antigas rixas : destemido, valente e audaz, d'uma ousadia crimino a de perverso turbulento. P erto da esquina. trez homens discutiam com ardor em frente á casa de uma prnstituta, que ass i. tia da janella á briga dos seus apaixo– nado . Effectivameute, pelas exp1·essões d'elles, o mulato r econheceu ser a.quella mulher,-he– dionda no rosto e ainda mais na meia- nudez que , apre entava,-a causa ela ruidosa disputa. Todo• queriam pas ar a noite no braços d'ell a, toman– do-lhe emprestados, por algumas horas, os bei– jos encachaçados que tinha o habito de distri– buir pelos p ortadores de magras notas de 2i; nenhum d'elles resignava-se a ceder o logar aol! companheiros, cuja colera explodia em porcolii vilipendios vomitados em falsete, no fundo do qual poder-se-ia sentir uma leve exhalação ac re de vinho fermentado em estomagos replectos de comidas fortemente temperadas. A meretriz conservava-se tranquilla, sem uma palavra, conscia de que tinha de vencer por fim: um d'elles havia de ficar; o dinheiro era certo. Mas Lourenço, indignado. acercara-se do g rupo, cleante do qual estacou, mirando-o af– frontosamente . Um so rriso saturado de myste– r io frisava-lhe os grossos labios, com um sar– casmo. • .l

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