CARVALHO, João Marques de. Hortencia. Pará: Livraria Moderna, 1888. 230 p.

Hortencia 137 a trave sa do Principe. Pnlsou-lhe com violen· eia o coração no peito. A lembrança do sapatei– ro ergueu-se-lhe destacadamente no espírito_; e a sua memoria foi -lhe delinea,ndo as sueces ivas e muitas vezes que por lá passára, annos antes, para assegurar-se da presença de OJaudio na ofHcina, antes de se dirigir á estrada de São J e– ronymo, ao deli cioso refugio dos braços de An– tonia, os quaes apertal-o-iam com força, como os laçc,s de gratíssimo supplício. O immenso prazer que então gosára,- a sua inten idade, as suas variadas pbases, toda a sua violencia e duraçãó,- appareceram á mente do mulato, como as evocações d'um crime, para aguçarem– lhe os remorsos, precipitar em-n'o a avaliar toda a antítbese da sua falta e pensar mais concen– tradamente na loucura gue então praticára e que poderia agora, em seu fatal desenlace, ter– minar por amargosa avanía provocada pelo marido injuriado. Por alguns min\ltos Lourenço viveu para o passado, na contemplação da sua existencia de outr6ra, tão diversa d'aquella que arrastava presentemente, sob a tétrica ameaça do sapateiro. Seguindo vagaroso pela rua das FJôres, via-se a caminhar por ali me mo, em outl'os tempos·, feliz, r ejubilado, saudando o Olaudio ao passar, com uma pequena ironía no sorriso amavel que dirigia-lhe da rua, compas– sivamente. Pasrnn, depois, em frente á pequenina casa onde o sapateiro tivéra a officin a : estava fecha– da, áquella hora, na impassível tranquilliclade da noite alta; um lampião, á porta, allumiava– lhe com tristeza a suja fachada branca, dando– lhe nns ares ·de abandonado mausoleu d'uma fa– milia extincta. Estugou Lourenço o passo, desviando o 18 •

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