CARVALHO, João Marques de. Hortencia. Pará: Livraria Moderna, 1888. 230 p.
Hortencia 107 gueiras no quintal, sem a mínima alteração, ás horas da sésta. • Ia Hortencia completar 18 annos. As suas bellezas accentuavam-se mais, no pleno desabro– char da vigorosa saude. Lourenço desesperava– se em· deAejal-a, sem animar-se a falar-lhe em tal assumpto, com uma timidez enorme a con– trastar com o seu costumado desembarayo de– cidido. Um sabbado á noite recolheu muito cedo á casa da mãe, onde morava desde algum tempo. A enfermefra, que obtivera licença de visitar a velha todas as semanas, ainda não havia chegado. Lourenço encontrou Maria s6sinha, a contar a roupa de um fre~uez que, devendo partir para uma viagem no dia seguinte á tarde, necessitava recebel-a pela manhã. Elle con;i.eçou a enrolar um cigarro, procurando com o olhar a rapariga. Como não a visse, interrogou a mãe : -Hortencia 'inda não veiu? -'Da não. Accendeu o cigarro, lançou f6ra o phospho– ro, que riscou pelo ambiente escuro do quintal uma. trajectoria rubra com a metade de um dis– co de ferro em braza e ficou-se a olhar para as roupas lavadas, cheirosas a sol e a sabão, que a velha Maria empilhava em cima da mesa, na varanda, sob a luz mortiça d'uma candeia de pe– troleo, pendente da parede sem cal. Fóra, na estrada da Constituição, nenhum arruido havia; s6 de espaço, no grande silencio reinante, elevava-se o barulho das i:ódas de um carro a sacudir-se pelos covões da calçada ma] cuidada e pedregosa. Um relogio da vizinhança deu 7 horas. Lourenço impacientou-se levantoú a cabeça, atirando para o chão o cigarro apa– gado. Por onde estaria Hortencia ? Uma des-
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