CARVALHO, João Marques de. Hortencia. Pará: Livraria Moderna, 1888. 230 p.

106 . Marques de Cwr,ua.Uw Que não havia nada como uma pessoa sentir-se livre. fazer só o que lhe viesse á telha, sem dar satisfações a ninguem. E entrou a encarreirar deante da assistencia as suas razões todas, as causas do seu modo de pensar por similhante fórma. A vizinha que aventara a lembrança do casamento de Hortencia: tratou logo de comba– ter-lhe "as bôbáges", com grande abundancia de rubores coléricos e esgazeamentos d'olhos iii– jectados sobre os labios grandemente arregaça– dos em mornices hediondas para darem-lhe saída á voz esganiçada e precipite que, por motivo d'uma bronchite, rechinava .µa garga_nta como um velho taquary cheio de sarro, ao fim de lon- ga cachimbada. · Lourenço deixou-se ficar á porta, sem que– r er immiscuir-se na conversa, que poderia .com– p romettel-o. E ali, sósinho, emballado no écco longínquo das vozes no quintal, sentia que vio, lento desgosto, feracíssimo em dissabores e des– ditas, empolg_ar-lhe-ia o coraçãQ apaixonado, no caso de realisar-se o facto, aliás bem natural e, todavia, incrível, do casamento de Hortencia. Passaram-se alguns mezes em tal estado de fingido esquecimento por parte de Lourenço e de Hortencia. A ambos parecia não haver nunca existido aquella terrível noite em que um fórte g emido de dô1· da rapariga fôra abafado pela mão crispada e trémula do mulato, sobre seus Iabios gelados pelo medo. Nada acontecêra de anormal. Continuava o me~mo viver. m@notono em sua constante marcha de palestras domin -

RkJQdWJsaXNoZXIy MjU4NjU0