MARANHÃO, Haroldo. Flauta de bambu. Rio de Janeiro: MOBRAL, 1982. 64 p.

A XÍCARA: MISTERIOSA Na verdade, poderia ser copo, jarro, frasco vazio de remédio. Não: tratava– se precisamente de uma xícara. A xícara era de louça barata, com flores azuis e amarelas estampadas no ventre e no pires. Não chegou a ser esclarecido o advento de tal xícara, onde tudo aconteceu e começou. Sumárias as informações. A idéia nuclear, o ovo, foi: a xícara misteriosa. Exatamente: xícara. E misteriosa. Misteriosa por quê? Ora, porque de repente o leite some. Quando a gente vai beber o café, o café desaparece tambéi;n. É mesmo? É. Claro. E como é isso? Conta. Não contou, sorriu apenas divertido. Pegou diversas tampinhas de refrige– rantes e com habilidade as colou numa placa de isopor, logo abstraído, a cabeça baixa, os óculos caindo pelo nariz, como quando escolhe seus selos com a pinça e os enfileira nas cintas de fino papel, do álbum vermelho que é a sua penúltima paixão. A última são as bandeiras dos países. Não obstante, percebi que havia urgência, premência, em acabar rápido a nova brincadeira, e propôs a brincadeira levantando de surpresa a cabeça e nisto consistia: escrever um livro. - V amos escrever um livro? 43

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