MARANHÃO, Haroldo. Flauta de bambu. Rio de Janeiro: MOBRAL, 1982. 64 p.

Seu Genival, bom d... Cale-se, cale-se! Nem mais uma palavra. Cale-se! O rapaz evaporou-se. O incidente despertou curiosidade, culparam-lhe o fígado. Passou a mostrar-se hostil, não dirigia a palavra a ninguém. Mas não podia evitar na rua, no café, no ônibus, que um conhecido lhe desejasse bons dias, boas tardes, boas noites. Vivia agora em permanente crispação, em cada amigo enxergava um inimigo. Já replicava com palavrões, fazia gestos obscenos. Certa ocasião agarrou pela gravata um repórter de jornal que de passagem lhe desejara bom dia. Esmurrou-o, foi levado à polícia. Decidiu-se por procurar médico, acabou tendo pejo de revelar os motivos -que a ele mesmo pareciam humilhantes, da sua intolerância social. Ultima– mente chegava a perigosos extremos, que lhe custavam vexames públicos e a esquivança dos melhores amigos. - Encurtarei a história informando que há três dias vive em calma o Genival, definitivamente aliviado de seus males, graças à providência a que recorreu, explodindo o ouvido esquerdo com bala de calibre duplo. Porque além do mais era canhoto. 30

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