MARANHÃO, Haroldo. Flauta de bambu. Rio de Janeiro: MOBRAL, 1982. 64 p.

estava transformando num trambolho. Inclinei-me pelo que me pareceu mais acertado nas circunstâncias: esperar pela sessão seguinte, e ao fim da qual haveria de surgir-nos alguém. Instalamo-nos no hall do cinema, resig– nados àquela penitência. - Vamboooora. Eu tou com sono. Confesso : já estava impaciente, decidido a sapecar-lhe um cascudo. Acaba– da a sessão, levantamos o trambolho , a quem o sono derrubara, P. ficamos a mostrá-lo ostensivamente aos passantes. Positivou-se que a guria falara a verdade: a mãe desvencilhara-se da filha escolhendo aquele estranho local, e esta escolhendo-nos justamente a nós! Levamos a menina para casa. Onde .comem dois, comem três. Quatro dias se passaram, a imprensa não registrou o desaparecimento. Diluiu-se a menina com naturalidade no novo lar. E não tenho pejo de admitir: até que ela se vem mostrando um torrão de açúcar! Isso, um torrão de açúcar. Ora essa: não se apanha uma flor distraidamente num jardim? Deve ser a mesma cousa, ou cousa parecida : temos nós agora esta criança, que é também um pouco de flor. Simples é seu nome: Das Dores. Domingo, não sabemos ainda se a levamos ao Zoológico, ao cinema ou a um parque infantil. O lanche, é claro, será cachorro-quente e guaraná. Ou será que ela vai preferir pipocas e sorvete? 16

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