MARANHÃO, Haroldo. Flauta de bambu. Rio de Janeiro: MOBRAL, 1982. 64 p.
O"MAFUA DO JtJALUNGO" No precedente capítulo, que em duas linhas ora se resume, com vistas aos leitores que têm por costume pular páginas, escrevi e história do meu exemplar do Mafuá do Malungo. Tratava-se de um dos cento e dez exem– plares da primeira edição fora do comércio, que o poeta Manuel Bandeira, num gesto mais que encantador, ofereceu ao amigo muito amigo dos seus versos. Ligeiras mãos, ou mãos distraídas, apossaram-se da raridade, em meu poder somente por breves dias, que os amigos fizeram sumir num jogo de juju, de tal sorte que nunca mais vim a saber se ficara o livro com José, Antônio ou João (e como os nomes nada dizem), pode ser que fosse Ernesto, Inácio ou Setembrino da Paixão. Embora me desagrade praticar informações de ordem pessoal, o sabonete que utilizo, as cartas que recebo, os almoços que rumino, as mãos que aperto, os livros, enfim, que me subtraem - cumpre-me dar contas do fim da minha história. Esta a verdade: registrei o episódio por meríssimo des– fastio. Afinal, depois de quase quinze anos, quem quer que fosse o autor da tramóia já se teria habituado à idéia de ser o dono do volume, conser– vando-o espremido entre outros, coberto de pó. Nem de longe me palpitou que viessem os deuses premiar-me com semelhante loteria. Mas assim acon– teceu. E folgo em anunciar que o meu raro Mafuá, meu, tornou ao seio de Abraão. Alguém que não sei quem é mandou entregá-lo num dos locais que diariamente freqüento. - Entregue a ele e diga que alguém telefonará - informou a moça que trouxe a prenda à moça que a recebeu. Passou-se o fato há dez dias e o telefonema não houve. E nem precisa, não, ignorada amiga: desejo desobrigá-la de escusas para nós constrangedoras e que até poderiam arranhar a alegria que pulsa no coração meu transverbe– rado. 13 .,
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