Femea
OCRIME DO DOGMA Ao Altair Burlamaquí Foi ao terminar as costumeiras orações noctur– nas e ao escutar o rangir da rêde d'ellá, no quarto visinho, que, quasi palpavel, quasi corpórea, a ter· rível certeza o invadiu : amava Consolação. Ao isso concluir, sob o pyjama ele zephir claro, seu corpo fremiu numa emoção indescriptivel de delicia e de horrôr. Delicia, porque via, emfim, de– finido o sentimento mysteriôso em que se agitava a· tempos, fazendo-o afastai-a ele si, e attrahil·a, obrigando-o a furtar se o mais possivel ao seu contacto, e exasperando-o, num mal-estar insup– portavel, quando a tinha ausente. Horrôr, porque sabia impossivel, criminôso, semi-incestuôso esse affecto pois que elle era um padre. Os olhos coruscantes pousaram-se-lhe nà ba· tina luzidia estendida no espaldar de uma cadeira t\ sua frente. A véstia, nêgra e severa, parecià mostrar-lhe, eloquentemente, o abysmo enorme, só transponível com a aj 1.1da do peccado e elo crime, que os separava para a eternidade. Suffocando, o cerebro em cháos, o côrpo em febre, abriu a janella. A brisa ela noite bafejou-o, alliviando-o. A'quella hora, a rua. silenciosa e de– Rerta, dormia dentro da meia-escuridão permittida pela mistura das trevas e da luz baça dos lampeões olectricos. Ao longe, para as bandas do Palacio, rumorou um barulho rapido de cavallos a trote.
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