Femea
PAGINA 72 )...NTONIO TAVERNARD e morrêra. Crescêra ao acaflo, livre e sôlto como um bicho, sem conhecer nem pae nem familia, ro– lando pela infancia e pela adolescencia como um seixo que despenca-se numa ladeira ingreme, aos trancos e barrancos. Bem depressa apprendeu a lutar para viver e a contar só comsigo nas emer– gencias existenciaes. A miseria, uma miseria com– pleta, mas honesta e laboriosa, sempre andou bi– furcada na garupa do seu destino. Isso, por~m, que lhe importava a elle, se tinha seus, bem seus, dispondo-os ao seu bello prazer, os dias e as noi– tes, a viola e o tordilho, a passóca e a branca? Os dias cobriam-no com o omo do sol, auritapi– zavam-lhe os pvssos; as noites offertavam-lhe a prata dos luares e as gmnmas do ostellário; a vióla, cunfidente e recreativa, confabulava com o seu in– timo, exteriorisava-lhe e traduzia-lhe as impres– sões; e o corcel acalentava-lhe, como um bêrço, as. somnolencias dimanantes das largas estiradas no chouto rythmado. Era, pois, mais do que rico, feliz. Mas, um dia, uma saia... Uma saia commum de chita ramalhúda .. . uma saia igual a muitas que já vfra... e .. Na noite, desse encontro sob o «céo descascado », na solidão do pouso, pela primeira vêz e de repente, a sua vióla ao gemer os descan– tes.costumeiros, ouviu, de seus labios, num_impro– viso lindo, uma palavra desconhecida que, ao echoar, pôz, f1o .homem, um fremito no peito, e, no instrumento, um arquêjo nas cordas-amôr. Amôr. E disse, inconscientemente, com essa inconsciencia de que são feitas todas as exclamações verdadei– ras da alma: -Eu amo! Commovido, em préce, murmurando, ungil:do
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