Femea

í:>AGINA 44 . AKTONIO TAVERNAH.D do·o numa f.alta de reflexão, numa syncope psy· chica. Isso bastava ... Chegou á porta da taberna e olhou a rua. Viu-a sempre a de sempre, suburbana, poeirenta no verão, enlameada no inverno, apertada entre um casario asymetríco, irregular, cheio de salien– cias e reentrancias, o dorso coberto duma vege– tação rasteira em touças e coalhos verde-negros, por onde rebolavam creanças anemicas e ventru· das e uma cachorrada esqueletica e vad:1, arte~. risa:da por sargêtas desbeiçadas, represando uma lltgua quieta, estagnada, !imosa em cuja flôr riscadá, de quando em quando, por flotilhas escuras de lar– vas de batrachios, nuvens cinzentas de carapanãs cirandavam pelo meio dé uma flóra gosmenta' e parasita. Olhou a rua e viu-a sempre a de sern– pre, immutavel, paspalhona, toda indifferente a um bando crocitante de urubús que extripavam o cadaver semi ·putrefacto de um gato e á procis– são tambem eterna dos seus moradôres-operarios pauperrimos, · miseraveis, que a pe.guram, diaria· mente, enrodilhados em molambos, dês a madru· gada até o entardecer,· num movimento d~ formi· gueiro labuta_dôr que se -esprai9. do fundo tôrvo das estancias e palhoças para o vent1·e lôbreiQ das offic-inas e dos- porões, um formigueiro arrastado . pela fome ao trabalho, e devolvido do trabalho c0m a fome. · A rua os conhecia a todos desde quando, ainda fétos, vegetavain, entumecendo os ventres maternos, assistindo :a sua curta e doentia infancia, da.ndo,lhes lama para a brincadeira e baganas para o vicio precoce, testemunhando-lhes o alista· mento no exercito do trabalho sem futuro ...:... destinq

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