Femea

i>AGlNA 25 FEMEA ca.par sómente sons inar}iculados, enrouquecidos, grotêscos. Es perou, então, que a doença chegasse ao ce· rebrp e o nfogasse na inconsciencia da loucura, e, depois, cabriolando, com_o um clown bebado, des– cesse até ó coração, marmorisando·o tambem. Espe· rou de balde. A paralysia saciára-se. E os orgãos vitaes continuaram a funccionar como sempre, im– pertui·bavelmente, tal alguns fétos vivos num ven· tre cadaver. - Os dias que se seguiram foram um rosario de dôres indescrip.tiveis, de afflicções mudas, de ago– nias atrozes. Passára-os naquella cadeira de es– paldar encourado, a olhar pãra o piano qué, sem· pre aberto, par~cia convidai-o, sorrindo, ironica– mente, pelos dentes alvos do teclado. De ha muito, desde os tempos da saúde , so– nhára com µma gigantêsca symphonia que pin·– tasse em sons a tortura ~empiterna -do legendaria, Prometheu. E, agora, que era tambem um Pro· mctheu acorre)ltado, o seu genio gravára·lhe na mente todas as notas dá musica idéalisada, com· pleta, esplendida, extraordinaria. E não poder executai-a L:. E não poder siquer ditai-a a outrem !. .. Naquella tarde, mysteriosa sensação se lhe ennovelára no .intimo. Pensamentos extranhos bai– lavam 110 ar uma dansa de sombras. O corf ção fremia mais do que habitualm~nte. O sangue ca– nalisado nas suas veias e art~rias r etesadas como cordas tensas esgorgitava em caçhões 8 arre- · messos ._E, çomo nunca, martel ava-lhe o espírito o desejo despotico de executar a sua creação iné- dita. -

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