Femea
PAGINA 20 ANTONIO T ,\VBH~A!\D venci de carreira a alamôda que leva ao patamar, galguei os degráos amosaicados da escadinha e abriguei-me na varancta colonial que cinta o edifí· cio, esperando amainasse a chuva, não querendo bater, pelo receio de interromper o repouso da que, áquella hora, arrumada a. bagagem, devia dormir, tranquillamente, sonhando, talvez, commi– go, repetindo o meu nome em mussitação. Porém, uma réstea de luz, escorrendo, a poucos passos, de uma janella empannada por um store descido, imou-me a curiosidade até o rectangulo illuminado. Ergui de leve o sto1·e e espiei: no meio do quarto, sobre um tapête hungaro, aos reflexos suaves ele um abat-jom· azulado, o corpo nú, alvi-rosa de Fla– via se enroscava, aos colleios, como uma serpente de nácar e jade reptando por um páu d'arco cabi– do, ao bronzeado e musculôso do capataz Gracian· no, um mulato desempennado, beiçôrras. largas e amarellidas de fumo, dentes pôdres, grenha re· vôlta e aspera. Era bem ella, sim, R Flavia de Almeida, a mu– lher superiôr, differente das outras, humana ape– nas pela fórma corpórea, unica, uma dessas eleitas que Deus; de quando em quando, manda á terra para exemplificar o que de differença existe entre a mulher e a femea, que, no mesmo instante em que, talvez, um homem se estivessse matando por ella, e outro, por sua c~usa ainda, se igualava, pela infamia, a Cain, alli se prostituia, ganindo de luxuria, como uma cadella, aos musculos potentes de um creado rescendenie a catinga e a cachaça. E o uivar do vendaval, o crepitar dos galhos na floresta, o escachoar da chuvarada no telhado, o ferviihar alteado do ribeirão vizinho, tudo que
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