Femea
PAGINA 0 16$ FEMEA fuga. Mas como evadirmo-nos do que trazemos dentro de nós, sombra do nosso intimo'? Presentia inviolavel acoito nas fa uces escan· caradas do mar que, na sua frente, .barria a dôr ou o cio de mil elephantes monstruosos. Phosphores· cencias piruetavam na crista das vagas, serpea– vam nas ondulações, soalhávam os remansos. O mar-velho deus amigo elos homens, o que ihes dá o dôrso enrugado para conduzil-os a con– quist&s maravilhosas; o que .lava, cuidadôso, para deleite delles, o leito arminhado das praias, bor– dando o, franjando-o de conchas nacaradas e am– bar amarello, o quê accede ao espostejamento do seu ventre fecundo, e ao arranco de perolas e coraes para collares e diadêmas; o das coleras formida– veis e das serenidades magnas--alli estava e pa- recia dizer-lhe: _ -Vem! No meu seio encontrarás o repouso das agitações. Em mim, diffundir-te -ás, fragmen,– tado em gôtta d'agoa, em filamento vaporôso, em relampêjo de santelmo. Beijarás o corpo nú "de virgens nubis e intocadas. Convulsionar-te-ás ' na !aseivia vesanica das tempestades e gosarás a volupia de matar cantando. Esbofetea,rás rochê– dos. Invadirás cidades. Deflorarás florestas. En– golirás civilisações. Depois, cansado da existencia acquatica, abandonar-te-ás á sucção atmospherica. · E ·ascenderás ao espaço, galgarás o infinito, pai– rarás no éther, roçando as constellações, numa orgia de azul, até que um corisco esfarrape a nu– vem a que pertenças, e te despenhes, chuva ou orvalho, para dessedentar corollas é fecundar se– mentes. Vem para a minha vida que não morre nunca!
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