Femea

PAGINA 156 ANTONIO TAVERNARD Meia-n.oite. Hora do mysterio, do sortilegio, da càbala, do sabbat. Hora em que um dia se despenha no barathro da eternidade e em que outro dia brota do alvéolo do tempo. Hora-tumulo·e hora-bPrço. Comêço e fim. Hora do amôr e da morte, do beijo e da dentada; d.o êx,J:ase e da porneia. Hora em que, no céo, vêm surgindo as estrêllas, e, na · terra, vão sa· hindo r.s prostitutas. . · Hora sagrada e · peccaminosa, do archanjo e .do imanus, de Gabriel e. Quasimodo. Hora em que a lei passa vigiando o .crime, vociferando no patear das patrulhas, e em que a religião impreca contra : o _vicio pelo sei·mãb dos campanat'ios. Meia-noite . Hontem, hoje e amanhã. Passado, presente e futuro. Foi, é e será. Hora . em que o tempo, como um peregrino fatigado., parece parar. descansando, antes de proseguir a sua marcha de. Azhaverus do infinito. Hora em que a noite ·é cadaver, e a manhã, embryão. Hora dos paradô– xos em que a virgem chora e a meretriz sorri, em que 05 ascétas pensam nas messalinas e .as tra· viatas invejam as monjas, e em qu3 ha arroubos mysticos em quarteis_. e orgasmos lascivos em conventos. Hora do ignôto e da revelação, da Es– phinge e de Aedipo. Meia-noite. Hora em que a humanidade mais fortemente quer ser tudo, e mais nitidamente ·se convence de ser cousa alguma. Hora·seculo para os desditosos, e hora -insta1:ite para os felizes. Hora da mobilidade , e do estagio, Hora dos incU'bós e dos sucubos. Hora em que a · agui,a tremo no seu alcan'til, e o lacráo freme no, seu lesiin. · · . .

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