A Estrela do Norte 1864

A E~TRELLA. DO NORTE. HCbf IS8i5:i'1 &Wi t S t iNPMI a ja, esse dinheiro. Habilita- te para ir bus– car o thesouro, eu t'o dou. En trega-me todos os dias as economias que fizeres com o teu trabalho; quando tivermos os oiten– ta libr.as _par.tiremos .ambos para a Hes– Jlanba l - Oh I Oh! meu tio, 'isso é impossivel, diz Adolpbo no maior desalento; que economias póde fazer um operaria? uma bacatella ! -Não te dê isso cuidado eu sei contar melhor que tu, e graças á caixa dos fun– dos , as tuas pequenas economias medra– rão muito mais depressa do que tu pen sas. Depois des tas paiavras Adolpho já não _parecia o mesmo : animado e fortalecido _pela esperança de haver o thesouro pôz mãos a obra com todo ardor. Os primei– ros mezes foram-0s mais penosos. Ojoven encadernador havia contrahido habitas .que muito lhe custaram a perder; a obri– gação do trabalho era-lhe insupportavel: era necessariorenunciara essa mobilidade caprichosa q.ue até então tinha dirigido todas as suas acções, vencer a fadiga_e o -desgosto, resistir as instancias de seus antigos amigos e oompanheiros dos pra– zeres. Foi u ma ardua e penosa tarefa ao principio ; mais de uma vez lhe faltou a coragem. Não tardou, porém, que o tra– balho produzisse o seu effoito ordinario, que é purificar o coração e inspirar bons sentimentos.. A medida que a vida de ·Adolpho se tornava mais regular, as'.suas inclinações tomaram uma nova direcção. A assidui– dade no trabalho durante o dia dava-lhe de noite um aescanço mais suave; come– .çava a achar novos encantos na vida da familia. pensava muito menos no thesou– :ro e cada vez sentia mais as doçuras e a felicidade junto de seus exellentcs pais, -de suas irmãs t,ão meigas e admirava-se de ter podido viver em uma dissipação que o arras tava dellas. Uma noite estava toda a familia reu– nida- no quarto do velho sargento. Fal– lou-se do primeiro mestre de Adolpho que depois de trinta annos de uma vid honrada e laboriosa acha~-se a ponto de se ir embom e ia vender.o seu estabele– cimento. -Quem comprar a loja deste excellente homem, diz Adolpho, acha um verdadei– ro thesouro se lhe souber daz: o valor e s-e lhe conservar a sua freguezia . que meu antigo mestre devia á sua probidade e ao seu talento. o velho sargento sorriu-s~ ao ouvires– tas palavras. No dia segumte chamou Molpho e disse-lhe.: - Meu filho, estão completas as oiten– ta libras. - Já! e}(clamou o mancebo todo admi– rado, e já com muito menos ardor para emprehender a viagem. - Sim, mas lê este jornal. Apresentou-lhe uma folha em queAdol– pho lêu : « •• •• Soube-se que os caixões enterrados nas margens do Douro não ti– nham senão polvora. ,, - Ora, meu tio, exclamou Adolpho mais enverg-0nhado do que pesaroso; já o sabja -e quiz zombar de mim. - Não zombei de ti; prometti-te um tbesouro ~ tu o terás. Pega na mão do mancebo sabe de casa com elle, e leva-o para diante de uma linda loja de trabalho. Adolpho reconhe– ceu então a !Clja do seu antigo mestre restaurada, pintada de novo, guarnecida de todos os instrumentos necessarios, e por cima da porta um nome gravado em letras de ouro, era o nome de Adolpho. - Ora aqui tens, meu filho, diz o ve– lho sargento com as lagrimas nos olhos e deitando-se-lhe nos braços ; aqui tens o que tu mesmo chamavas hontem um thesouro, e tinhas razão ; por tanto lem– bra-te delle toda a tua vida, meu ami– go, o verdadeiro thesouro do homem está no trabalho, ajudado pela economia, as– sim corno a verdadeira felicidade está na satisfação da consciencia e nas affeições de fanúlia 1•••• Os l!lantos Jogares ena que pade– eeu e n;.01•reu Noss o Seultor. Os leitores christãos perguntarão quaes foram os sentimentos que eu experimen– tei entrando neste lugar tremendo (o San– to Sepulcmo); não posso realmente di– zêlo. Tantas cousas se apresentavam á um tempo a meu espírito, que nen– huma idéa particular me detinha. fi– quei quasi meia hora de joelho na cama– rasinha do Santo Sepulchro, o olhar fito na pedra sem poder della desvial-?. Um dos dous religiosos que me condl1Z1am fi– cava prostrado junto a mim com a fron te sobre o marmore; o outro, com o Evan– gelho na mão, me 'lia ao clarão das alam– padas, as passagens relativas ao Santo Tu– mulo. Entre cada verseto recitava elleuma Oração : Domine Jesu Christe, quiin hora diei vespertina de Cruce depositus, in brachiis dul– cissimce Matris tuce reclinatus fuisti, hotaque ultimá in hoc sanctissimo monumento Corpus tuumexaminecontulisti; ele. Tudo oque posso assegurar, é que á vista deste Sepulchro tritlmphan1eeusó senti minha fraqucsa; e

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