A Estrela do Norte 1864
.-l IE8'll'BEL!~:I. DO NOll'I'~. de cousas sérias, fosse embora o seu au– thor o genio mais sublime da épocha. Portanto, Mr. nenan, tenho essa convic– ção, qualquer que seja o cõnceito que faz de si proprio, não é simples bastante para persuadir-se que todo esse rui,Jo seja de– vido unicamente á importancia de sua pessoa e á superioridade de sua obra. Esse ruido ou tras cousas tem que elle n ão pôde ignorar sem ser por dem11is ingemw. J nde– penden temente das molas puchadas com habilidade pouco ordinaria, o su ccesso de Mr. nenam é d,wido sobretudo á estas duas cousas ftcJ que ellê mesmo representa, e o que sett livro attaca. • Mr. Renan não é mais entre nós um simples indi vi<luo; digam o que disserem, elle é um tanto leaiao. Sua inditiidualidade não é sómente real, é tambem represen– tati ,1a. Elle representa uma multidão , uma turba, uma pandilha, dae-lhe o no– me que quizer-des ; elle é por ora, a prin– cipal figura do nosso anti-christianismo contemporaneo; e por este titulo elle cria estrondo, como voz e como écho. As busi nas da impiedade, por pouco que apanhem a nota vibrante no momento, provocam es trepites que nem o mes mo genio poderia dar ás vozes da verdade. Jsto dimana de um tris te mysterio de nos– sa natureza, sempre mais prompta á es– tremecer com os accentos do mal do que com os do b em. Ora, !\Ir . ílenao, na hora em que estamos, é a voz do mal por ex– cellencia ; e elle dá á essa voz de Satanaz acceotos dij sereia que attrahem p~ra os abismos as multidões enganadas. Mas o que acima de tudo explica o es– trondo dessa obra de escandalo, ó o obje– cto por ella attacado. o nome de Jesus é o maior dos nomes, e nunca será tocado um mais retumban– te. Esse nome está em toda parte; e aguel – le que elle represimta é ainda boj e a alma da humanidade viva. Bater com palavra conhecida e .iá popular n este nome divi– namente sonoro; attacar á face de seus adoradore11 esse Christo a quem está presa a humanidadc por todas suas fibras vivas; isto era arreba tar de assalto a celebridade do mal , da audacia e d<i blasphemia: era fazer-se o Erostralo ( 3) d:is sociedades chrislãs, lançando fogo ao templo da hu– manidade. Eis o mysterio desse triumpho, o segre- do de tanta bulha. Sem esta explicnção, o grande rumor que se faz em torno desta obra medíocre fic.i.ria para quantos a te– nham lido um supremo espanto; e ser– se-hia tentado de exclamar: -o· prodi– ~io, ó tempos, ó costumes, . . .. tanta fra– qu eza, e tanto baruiho ! Com etreito se, depois de ouvidos os échos que repetem a fama deste livro, al– guem pesa-o na balança da justiça impar– cial ; vê-se obrigado á dizer : - Que ! era só isto?! Não fallemos do talento de Mr. Renan. Por demais nelle se lhe tem fallado. Não é de seu talento que se trata, é de seu li– vro. Ora bem, dii;amol-o sem esmorecer: uma sentença já foi pronuciada sobre este livro, a qu:i.l o futuro n ão ha de reformar. .t:' com satisfação que isto verifico, com– pensação talvez da minha .:hegada um pouco tardia: sim, para esta obra con– temporanea já existe uma posteridade; e essa posteridade pela voz unanime da opi– nião repete por toda parte a mesma sen– tença : Fraco, fraco, fraco ! A Vida de Jesll,S foi bem chrismada um bello volttme e um pobre livro ( 4); estou que o nome lhe ha de ficar. E' esta a primeira vez que Mr. Renan apresenta ao publico o que chamam uma obm; e esta. obra revela-o e nos tranquil– lisa. Os seus artigos semeados nos jornaes e nas rev istas nos podiam illudir; suas obras , sendo tortas como esta, só excitarão nossa compaixão .... . e nossa confiança. Podiamas julgalo forte; elle é fraco. Todavia. por mais palpavel e evidente que seja hoje em dia para todos a indi– gencia ph ilosophica e historica deste ro– mance sobre o Evangelho, n ão se ha de crer que este livro deixe de ter eITeitos so– bre o presente e resultados no futuro. Pe– rigosa illusão seria o crer que um livro destes, tocan do em ta es cousas, póde pas– sar pela humanidades m nella deixar de si uma marca, um vestigio, uma impres– sã.o, - duvida ou convicção, scepticismo ou certeza, germe n ou rnina, vida ou morte. Um livro é o testemunho de uma intelligencia. O livro é lido, é en tão uma Alma em contacto com outras al mas; ora \l livro de Mr. tlenan é um livro !~do; terá pois um resultado, e este não sera peque– no, póde-se prevér. Porém qual _ha de ser esse resultado ? Será bem? sera mal?– Ambas as rousas. Elle fará bem ou mal, con forme o ponto ele vista donde se con– templa, conforme a di sposição dos leito– res. ( 3 ) Ueio louco da antiguidade pagã, qu e, para immortalisar o seu nome, incendiou o celebre tem– plo de Apollo de Delphos. Debalde lançaram os magi trados pena de morte contra quem pronun– ciasse o sou nome. Não lhe faltam nem [colebri- 1 ( 4) O Evangelho segundo Riman, por Henri dade~ nrm imitnilorPs. , L:t•ser<', engraçada e yiva eplira :\ T'idn de Jeç11~.
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