A Estrela do Norte 1864
• gloria no mundo e no céo, se não tivesse tido os ifüii~'ll'J3 velhos por tentadores ? O patriarcha José teria chegado á tal gráo de virtu de e de grandeza se tivesse t ido irmãos mais amornsos ? Não haver iam j ustos, nem occasiões de grandio~o merecimento , nem materia de for taleza, nem argumento de paciencia, se se arrancassem do mu ndo todas as iniqui– dades. se este n Jo vos movesse um pro– cesso i nj m i o.;o : Sj aqu elle não vos faltm;– se á palavra : se este devedor pagasse : se aqu llo corr ~pendente tractasse bem : se aquellc j niz cxp disse logo a vossa causa, não poderiei ter ma teria de paciencia e de re ignação, n•1m poderíeis fazer capital de ter consegu ido algum gráo de virtude magnan ima, forte e guerreira. CATTANEO. O ei"ancifi:1.0 de p rat a . .Joanna L . . . vagava uma noite de in– verno nas ruas de Londres. Fazia frio; um nevoeiro hnmido velava o céo, cobria as calçadas de um lodo escorregadio, o pe– netrava a desgraçada moça sob seus ves– tidos esfarradaclos. Ella vagava 1 sem asy– lo e sem pão, miseravel paria , lança da pela miseria no ultimo degráo da socie– dade. Esta mi eria era uma triste heran– ça: o pai de Joan na, caldeireiro ambu– lante, tinha morrido na estrada real ; s1:1a mãi morreu na Worh-House, ella pedia á piedade, á occasião, ao vicio talvez , um pedaço de pão. A misera creatura se ar– r astava, fraca , abatida, tirita ndo sob seu chapéu de palha, inundado de neblina, sob seu vestido de barege, trajo irrisorio, atirado ao canto do marco por alguma criada, e apanhado pela triste Joanna. A rua estava br ilhan tamente allumiada pelo gaz; as tabernas, os palacios de genebra, lançavam á rua exhalações de luz, de ca– lor e de palavras es trepitosas; mas de que serviam essas luzes e essa alegria á quem caminhava com o estomago vazio, e sem um tecto para repousar a cabeça? De repen te, na lama, en tre duas pedras, ella viu brilhar uma cousa, logo apa– nhou-a. Era um pequeno c cifixo de prata de um bello trabalho. - Vou vendel-o I disse comsigo Joanna; com o dinheiro comprarei dous pences de pão, e irei passar a noite em casa da mãi Gramet por um penny. Immediatamen te procura uma loj a ~e ourives e na esqu riia da rua descobrm uma, p~quena e fracamente illuminada. Joa nna entrou . Uma mulher estava sen- tada, occupada em examinar um grande registro. Esta mulher es tava vestida de lucto; tinha u ma figura calma, doce, de uma expressão pura e piedosa; levantou sobre a pobre moça um bom olhar, e lhe disse com voz pausada : -Que desejais ? - Quereis comprar isto? r espondeu ru - demente Joan na, apresentando o cruci– fi xo. A mulher tomou-o com respeito , e lan– çando um olhar sobre Joanna, cuja .figura t riste e selvagem sobresahia em seus ves– tidos rõtos, disse-lhe : - Milha filha, nós compramos objectos de ouro e de prata ; porém, dizei-me, sa– beis o que ó isto? - E' prata, bem sei. - Não é o que vos pergunto; sabeis quem é este h omem estendido sobre a cruz? - Que sei eu! - Que I pobre menina, ignorais que este homem é o Filho de Deos, que elle morreu sobre a cruz para salvar-vos ? - Nu nca me fallaram disso. - Não conheceis Jesus Christo, nosso bom Salvador ? - De que nos salvou elle ? -Do inferno, e abriu-nos o paraizo. - Não sabia nada ... . Eu sou uma po- bre miseraver reproba 1 - Não prasa a Deos I exclamou viva– men te a caridosa mulher. Ella olhou mais attentamente a pobre creatura em pé diante della : abr aço:i em um olhar esse rosto moço e descorado, esses vestidos sordidos, e, o que era peior, esse estupor d'alma, debu xado em todo o oomblante. Sua car idade excitou -se, suas entranhas de christã e de mãi extre– meceram e ella disse a Joanna: - Tendes parentes, casa? -Nada . .. Meu pae morreu debaixo de uma moita, longe d'aqui, em Cumber– land; metteram minha mãe na Worl.-Heu– se, e ella ah i morreu tambem ... . Cómo vim parar em Londres? não sei. Com~ tenho vivido? tambem não si; o qué sei é que desejaria muito estar no fuD;clo ~o ,amisa, porque en tão n[o teria mais frio nem fome. - Minha filha disse a mercadora, e esta palavra pronunciada Cúffi u ma indisivel bondade fez subir as Iagrimas ao olhos da pobre Joanna; minha filha, quereis que eu vos conduza á uma casa onde não te– reis mais frio nem fome, e onde se vos ensinará a servir a Deos? - Nem frio , nem fome I repetiu Joan– na, isso é um paraizo? - Não, respondeu a mercadora, repe-
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