A Estrela do Norte 1864
310 4ir.::u:.::..!... f 8 f PS dl na camara <l c s. A., Ibe ped ia bumilclc– m ente qu e lhe cedesse o seu lugar. O califa julgou que estava sonhan do : esfregou os olhos. Assen to u-se, e ordenou que lhe mordes e n·um dedo ( o qual tcn– clo-lhc mordido for tcmen Le, fo i fogo con– d mnado a leYar cem pauladas ). -O que estás tú a dizer? Repete, disse elle a B n- dab . - Eu digo, senhor , que vós deveríeis dei xar-me re inar cm vo~so Jogar e estou certo que toda a gen te ganharia com isso. o imperio, cu, e ._té vós mesmo . ... . O príncipe entendeu bem desta vez o que o seu primeiro ministro queria. Le– vnntou-se e bateu as palmas. Immed ia– tamente apparecem qu:itro escravos ne– gros. « Volta as costas, diz elle ao visir » Bcro -Adab obedeceu. O califa da-lhe um immenso pontapé aonde é costume dal– os; faz signal aos seus negros que lan– cem a mão ao visir aterrado, e condu– zam-no a pontapés até á porta elo palacio. Ahi tiram-lhe todos os seus vestidos, dei– xando-o apenas em cam isa, exposto á ir– ri.são dos que passavam. Ben-Adab, en vcr g·onhado e confundido, voltou para sua posição de pastor em que morreu miseravelmente. E Ben- Adab, meu caro leitor , sabeis on– de e tá? Hem· perto de Yós talvez; cm vossa casa; mais do que isso, no vosso quarto ; e mais elo que isso ain da, na vos- a pelle. Sim; na vossa pellc. Porque füta histo– ria é a vossa, a nossa, a de todos. Corremos sempre atraz da felicidade, e imaginando-a sempre na posição elevada de um grau acima da nossa. Qullnclo te– mos chegado á esta posição, olhamos logo para o numero de cima e procuramos sem– pre sem nunca achar. Se somos um pequeno operario quere– mos, pa1'a ser feliz, tornar-nos um opera– rio celebre ; se somos um operaria babil, querem0s, para ser feliz, passar a ser o patrão ; de patrão a proprietario ; ele pro– prietario á capitalista; de cap italista á ho_m_em politico ; de homem politico á mm1stro; e quem sabe? De ministro tal– vez á alguma cousa mais! .... E somos infelizes, in feliz s por culpa nossa I Porque não procuramos a feli ci– dade onde ella estci, E~1 Nosso CORAÇÃO. Por– que julgamos que aposiçao faz a felicida– de, quando ell~ consiste na ili o ição cm que cada um vive no seu estado, qualquer que elle seja. Todos, t?dos nós somos cha– mados á felicidade, r icos e polrn~s , gover– nantes e govern ados, pequenos e grandes; Deos, em sua divina bondad e, fez a f,lici– dade para todo o mundo. Só é feliz aqu.clle que soffre com pacien– cia e resignação as penas inseparnveis da viela humana; que acha no amor de Deos essa paz do coração que excedo todo o sen– timento; que sabe que a vida deste mun– do não deve durar muito tempo , e que ás suas miserias, sofl'r'idas christãmeute, succtJderão maravilnosas alegrias, qur. nada poderá perturbar. E, finalmente, só será feliz aquelle que fôr bom christao. Oxa– lá que nós sejamos, todos deste numero, car os leitores, e possamos aproveiLar da pequena histora do califa, do pasto e ela felicidade. Siau11Ies tlialogo. Não ha muito um certo personagem, incred ulo, como ha muitos, mas de boa fé, como ha poucos, me convidou á uma partida. A cousa valia a pena. Julgai vós mesmos: eu vou contar o caso tal qun 1 foi. Est:wamos em companhia de sabias, philosophos, litteralos, e até incredulos de primeira plana. A. conversação cabiu naturalmente so– bre toda sorte de questões; as opposiçõcs se manifestaram logo; muitos grupos se formaram e ele todas as partes reinou uma animação viva, mas contida. Naturalmente inimigo de discussões, todavia eu tomava interesse n'aquelles chuveiros de idéas contrnrias qu e se for– mavam ao redor de mim, e retirado no meu cantinho, conservando a mais res– tri cta neu tralidacle, me entregava pacifi– camente ás minhas refl exões. !\li nha felicidade não devia durar mui– to. J\lal tive eu a infeliz lembrança de me app1·oximar á um grupo onde a discus– srw começou a esquentar- se, não sei como reparam immedi atamente em mim, to-· mam-me por juiz, e bom ou máo grado, eis-me em scena. - Mas de que se trata? - Da religião, responde-me um dos in- terlocutores. - E o que se diz dclla? - Eu reclamo o meu direito de pensar que a reli()'ião não é senão uma mera su– perstição, "ho seculo XIX, seculo das luze~. - Pense o que quizer, senhor, a reli– gião é independente de seus pensamen- tos. · - Tanto melhor ! Eu concordo, pouco importa o que penso sobre ella; mas não é venla.de que quem diz r eli gião, diz su– perstição ? - E como prova. isto? -Como? -Sim.
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