A Estrela do Norte 1864

Servire me fecisti in v eccatis tuis. ( * ) Se queixa Deos á muito tempo : os homens mo querem forçar a que eu me acom– mode aos seus peccadm, e querem, se,ia como fôr, dobrar a religião de maneira que concorde com os seus apetites : Sel'– vire me fecisti in peccatis tuis . Que estragos n ão fez no christianismo do Egypto e da Siria a ambição de Ario? Que horrores se não viram na Africa pela soberba dos Dona tistas ? Que maldades se não com– metteram na Allemanha por um pique de lartinho Luthero? Que escandalos na Inglaterra pelos amores de ll enrique VlH? Que males não tem vindo aos fieis de França pela teima e hypocrisia dos Jan– seni ta ? E qu e fu nes tos incendios se não lamentam por toda parte pelo desejo des– ordenado de ler, de descobrir, e de fallar sem freio ; n ão como o Evangell10 diz, mas como o impio falla ? Arde tod o o mundo, irmãos, arde ; e as labaredas depois de abrazarem toda a ter– r a, tocam nos céos. Até 0s hereges, os j ndeos, os mouros se escandalisam da dou trina que essa nova impiedade espa– lha por toda :rar te, pelas mãos de mulhe– res e men inos, pelos offi ciaes e ignoran– tes, pelos seculares e leigos, emfim, por qu em não sabe responder nem se atreve a impugnar; por quem gosta de ceder á nova dou trina, porque é moda e porque lhe conYêm. Sabei que fallo pela propria expcriencia, e que o meu coração mani– festa a dôr a muitos annos reconcentra– da. Em Yão se tem opposto os Soberanos : cm vão os Pastores fulminam as censuras da Igrej a : em vão os oradores clamam contra a irreligião e impiedade : em vão os Lheologos allegam as escrip tu ras, o philosopltos as suas clemon trações , os historiadores factos innegaveis : em vão a luz da razão, a vir tude, a decencia, se querem oppor, porque uma ode elevada e sublime, uma copla harmon iosa e pi– cante, um dislico satyrico e envenenado, uma h istoria falsa ou corrup ta, mas bem escripla e engrnçada, bastam para r ender o coração pervertido e o entendimento ignoran te. Quem não sabe que aos livros de Vol– taire e de nosseau, que á Marmontel e nenard, que a outros mu itos que ainda escondem seus nomes é que se attribuem todas es tas injurias do Céo? Ao principio uma curiosidade qua parece innocente faz peg:n nes tes livr os ; a harmonia do esty lo, a gra .ª nos pensamentos, a pbra– se nova e delidada vão sensivelmente cn- D O @ '.11.'E , cantando o juízo e a alma; até a muitos que os liam só para os impugnar, a mui– tos que conheciam o seu refi nado e es– condido Yeneno, a muitos a quem as suas doutrinas eram desagrad aveis, se lhes pe– gavam as mãos aos livros e não podiam largar ; tão encan tador era o :.eu estylo. E que será nos mais, que leem por uma curiosidade ? Nos que vão com innocen– tes passos pizando o caminho de flores sem que vejam o aspide senão quando sentem a mordedura? Estes livros não offerecem no primeiro a pecto senão um titulo que mova o ape– tite e aparte o escrupulo ; pouco a pouco se in troduz com ar te uma irrisão engra– çada, que qu an to mai s engraçada mais impressa fi ca na memoria ; mas logo para disfarçar a ferida se continúa em mataria innocente, e doutrina sincera ; porém já o veneno tem entrado no coração, e quan– do se encontra blasphernia mais dura já não causa tanto horror. En tretanto a alma começa a balancear duvidosa e vem a ca– hir no scepticismo, dizendo : - Quem sa– be ?- e para se tirar da duvida vai es tu– dando e vai lendo ; mas por quem? Não pelos li vros admiraveis que a favor da religião tem sahido : não pelo Evangelho e historia ecclesiastica tratada com ver– dade e pureza ; mas estudam e leem pelos mesmos impios, que pouco a pouco afoi– tamente se declaram ; e fi ca o entendi– mento perdido, a alma envenenada, as paixões senhoras e o h omem abrutado. Eis aqui a origem, os progressos e o fim da enfermi dade a que tenho assistido, to– mando o pulso a es tes enfernos. Padre THEODORO DE A LMEIDA . U 111a Irnaií. I. Um mancebo descia a 4de Abril de i 849, pelas 4 horas da tarde, á rua do arrabal– de Saint-IJanoré. Andava elle apressada– mente, cantando uma a.ria de opera )9lhando de vez em quando as lojas par; admirar alg!imas gravu ras ou alguns objectos de arte. Depois de ter percorri– do a rua em quasi toda a sua extensão' atravessou os Campos-Elysi os, o yoltou ao anoitecer para seu quarto, cuJ~s Ja– nellas davam sobre o caes Malaqua1s e o Sena. . b Era, pouco mais ou menos, se1s º!ªS e meia quando Edgard Parrell envolvido em seu roupão, com _os pés sobre o caes do Chaminé, e um cigarro na bôca, poz-

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