A Estrela do Norte 1864

1E . ' ELl , il. )0 Nf '.l.' E . specti va Linha para elle alguma soducção, e não ob LanLe os rogos e as lagrima~ de sua irmã, partiu finalmen te. Deixemos de parte os enfados e os perigos da via– gem. Depois tle muiLos me;ms de nave– gação, chega ás Indias, procura, corFe, informa-se e acaba por saber que no m– tcrior do paiz, um pequeno soberano, como ha tantos nessa região, quer reor– gani ar seu exercito, e para este fim pro– cura um offlcial europêu. << Eis á caça do que eu ando, exclama o nosso homem ; official, sargento, pouco importa ; estes selvagens pouco entendem di sto, e ou me farei passar por capitão, por col'onel, por general, se preciso fôr . ,, Nessa mesma tarde poz- sr á caminho, para ir offe– recer seus serviços á esse soberano. De– pois de ter perd ido mais de uma vez o caminho, e escapado do morrer de fome e de calor, chega finalmente á capital do reino indicado e pergunta onde reside o rei. Atravessando a cidade, fica surpre– hendido de ver a quantidade enorme de carcundas que no caminho encontra : carcundas por diante, carcundas por de– traz ; ha-os de todos os sexos, de todas as idades, de todas as dimenções ; não se via senão carcundas, e o pobre moço dizia comsigo mesmo : « Valha-me Deos I acaso estou eu no paiz dos camcllos? » Chegado á porta do palacio, avfata soldados que eram todos mais ou menos deformes. - Que quereis ? lhe pergun ta o porteiro. -Fallar ao rei ; sou official, chego da Europa, e venho offereccr meus serviços á Sua l\fagestadtl. -Tenha a bondade de voltar, senhor. - Eu , voltar. E porque? - Queria ver-vos as costas : não tendes carcunda, podeis voltar ; o rei não accei– tará vossos serviços 1 O nosso heróe pensou que o porteiro estava zombando delle, mas o outro fal– lava seriamente. - Admirai-vos do que vos digo, prose– guiu o porteiro, e com tudo nada ha de mais verdadeiro : nosso soberano é car– cunda, e não quer ao pé de si senão car– cundas ; é por isso qu e os vistes em t ã grancl.e numero na cidade : com uma ca cunda podeis delle e. perar lféà :lo; mas sem ella nada absolutamente conseguireis. Só •vos resta uma cousa á fazer: ir ter com o medico, e pedir-lhe que vos torne car– cunda , clles · toem nes t~ 1,ai~ remedios para isLo porque ó mai s fac1l entortar um hom~m do que endireital-o: logo que ésti ver feita a operação, voltai ao palacio, o rei vos receberá de braços abertos, e vos afi anço que antes de seis mezes sereis mi– nistro da guer ra. O pobre moço retirou-se desanimado : a fortuna e o poder tinham bastantes en– can tos ; mas uma carcunda . .. era duro. Emfim a ambição o venceu ; seguiu os conselhos do militar ; fo i ter com um me– dico, tomou remedios, carregou grandes pesos, deslocou os ossos, tanto fez que no fim do algumas semanas estarn deforme para sempre, e gosava de uma carrnnda capaz de fazer pasmar todos os reis car– cu ndas da torra. Neste bollo es tado apre– sent_a-se_de norn ao palacio, pede uma audiencrn e a obtem. Já vos disso que elle era intelligente, e o rei est up• ; o pobre soberano deixou- se porLan to enga– nar á von tade pelo inculcado of ficial euro– pêu, e conferiu-lhe incon tinenti o titu lo de general em chefe de seus exercitas , que na verdade se compunham de alguns mil homens. Eis pois o nosso homem feito de sargento generalíssimo, e mendigo fidal– go, tendo palacios, carruagens e criados. [sto durou alguns mezes ; mas a hypo– crisia não tardou em descobrir-se. Osobe– rano declarou guerra á um príncipe visi– nho que tinha um verdadeiro official eu– ropêu : o pobre generalíssimo soffreu com seu exercito uma completa derrota, e te– mendo a colera do rei fugiu quanto an– tes, levando apenas de suas grande;.as a roupa do corpo e a carcunda, que se lhe tinha tornado companheira ins paravel. Errou por muiLo tempo ao acaso, reflec– tindo sobre a inconstancia das cousas hu– manas, e soube por fim que â oO ou 60 lcguas d'ahi o rei de um estado visinho pr0cu rava igualmente um officíal euro- pêo. · « O céo seja bemdito, exclama o nosso heróe ; o que com uma mão me tira, com outra. me restitue ! » Eil-o de viagem para esta nova avenLura. Des ta vez não é mais o numero dos carcundas que o impres– siona, percorrendo a capital do vovo rei– no; mas sim o dos tor tos ; havia-os em todas as portas, e era a cousa mais rara ver um homem gosan to de ambos os olhos. Vai ao palacio do rei, succede- lho a mesma historia da vez preceden te. « O rei é torto lhe dizem, :,6 quer tortos em seu serviç~; mandai furar um olho, _e se– reis bem vindo ; mas emquanto os tiver– des ambos, nada espereis delle. ( Continúa .) O 11e1•igo alol!I 1111aus liv••os . Em_ to~as as ida_de_s a religião tem sido o lud1br10 das pa1xoes dos homens : e o coração corrup to sempre nrra tou apoz el e si o en tendimento j á offnscado.

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