A Estrela do Norte 1864

A E§T!l ELI,A DO N@RTE. dos. Eu creio que se pode ser homem honrado e bom sem beatices. - Sim, Narciso, pode o homem ser hon– rado e bom sem estar sempre com Jesus Christo. Tu és um exemplo. hlas dize– me, todos os homens que nós conhece– mos estão no mésrno caso que tu? Se eu quizesse citar-te uma duzia de nomes que nós conhecemos, não te provaria o contrario? Tu és bom , tens um coração nobre e generoso, e nada te falta senão o complemento da religião para seres bom esposo, bom pai e bom christão ao mesmo tempo. Tu já estás convencido que a religião é boa para as mulheres ; tu me concedes ainda mais, que uma so– ciedade não poderia existir sem religião; não é verdade ? • - Estou perfeitamente de accordo, D. Maria 1 - Portanto, meu amigo , se tu me di– zes que a religião é boa para as mulhe– res, e necessaria para a sociedade, o que falta para admittires que ella é tambem boa para os homens? A religião é um facto, uma verdade. Examina com cui– dado todos os pontos della e tu verás co– mo e palpavel o seu estabelecimen to di– vino. Ora se ella é uma verdade, ella é tão necessaria aos homens, como ás mu- lheres ; não é assim ? , - Que queres tu concluir d'ahi? - A conclusão é muito simples, meu caro Narciso, se a sociedade, os homens e as mulheres tem necessidade da r eli– gião, tu és injusto comtigo mesmo vi– vendo nesta culpavel indi!Ierença, sem procurares de assegurar-te de uma cou a tão importante e que te toca de tãr per– to. Hellecte um pouco, meu queriC:J Nar– ciso, sim? ... Nossos ce,raçõe es tão j á unidos pelo mais dôce dos sentimentos, porque não. uniremos lambem nossas al– mas pela mais santa das praticas? Depois deste entreleni11, an to, arciso pesou melhor as cousas, e Yio que a re– ligião como lhe dizia sua mulher, era um fa~to uma verdade. Convencido des– te principlo elle acceitou a~ ~~nsequen– cias delle. - Pois que a relig1ao é uma Yerda.de, ella deve ser praticada. Mezes depois Narciso commungava ao lado de sua mulher , e tornou-se tão fervoro~o como ella. Ambos se acharam ain da ma!s unidos, mais for tes, e mais felizes, depois dcs e dia. F. DE MACEDO. V a.1•iedmles. CREDULIDADE DOS ESPIR_ITOS FORTES. Ha homens que se dizem espiritos fortes porque detestam a oberliencia. Elles riem da abstinencia de sexta-feira, vanglorean– do-se de olhar como puerilidades o que elles não comprebendem . - Nós não so– mos do numero dos credulos, - dizem el– les. In aredulos dos mais creclulos, disse um grande homem. E eis aqui uma prova. Uma sexta-feira, em uma casa de pas– to , eu jantava uma fritad a de legumes. Perto de mim jantavam tambem dous rapazes que se t in11am feito servil' um succulento assado. Eram dou s bons con– vivas, bigodes retorcidos, bebendo bem, fallando alto, e ordenando aos criados com Yoz imperiosa que cllcs tomavnm por dignidade, e os testemunhos por im– pertinencia. Elles se aperceberam que eu tinha a mania de fa zei· uso do magto ; e sem du vi– da parn me darem uma lição indirecta, diziam: - Quanto sabe na sexta-feira um pe– daço de bom lombo ! e ha gente ainda bastante tola para fazer uso elomagro ! Não posso conceber como um tal prejuízo te– nha durado tanto tempo. -Acreditas tu, meu caro, dizia o ou– tro, que minha boa velha mãi, ( era uma digna e santa mulher), me forçava afa– zer uso do magro qu anuo eu era pequeno? Mas quando a gente cresce, ve-se bem que um gordo lombo é tão bom na sexta-fei– ra como no domingo, e desembaraça-se de todas essas clevoçõcs, sem nenhum fun– damento nem utilidade. Veio depois a sobremesa, depois o cafó , depois o licôr , depois os charutos. Um dos criados se aproxima : - _Senha~,. di sse elle a um dos rapazes, eu tmha di to que o quar to numero quin– ze em que o senhor estava, foi immedia– tamente tomado para esta noite por um outro viajante ; por tanto tenha a bon– dade de tomar um outro quarto se não tem inte_~ção d~ par tir hoje. ,. _-E_u_Ja lhe_tmha dito, rapaz, que eu nao v1aJava Ci!a de sexta-feira! E é certo que eu flco ... - _!.lnt~o_ porque, disse o outro moço, tu nao v1aJas sex ta-feira? -É uma idéa ... Lto me contra.ria .. . Nunca viajarei na sexta-feira porque sem– pre se ó mal succedido . Não fa llemos mais nisso porque me conira.rias. - !\las , rapaz, que quarto terei eu ? - Só temos um vasio, respondeo o cria- do. É o numero i 3.

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