A Estrela do Norte 1864

.1. E8TBELLA. DO l\'ORTE. guinte, bem proprio a dar uma idéa da excellencia do ~scriptor : u A philosophia não poderia conceber mais bello espectaculo, que o do homem que óra, pois a oração do homem eleva– se até a Divindade, e por ella Deos mes– mo se chega ao homem. << Na lingua sagrada a oração é sempre um gemido, e. pode-se dizer que a Biblia está cheia de lagrimas. · - u Chorando oram os patriarchas, oram os sacerdotes, óra o povo inteiro. As la– grimas avivam a piedade, e se o que óra não chora como chora o povo judaico, sua oração não indica menos que elle quer ser consolado ou soccorrido. Tam– bem o espectaculo do que óra é enterne– cedor principalmente nas duas idades em que se mostra a maior fraqueza do homem, a da infancia e da velhice. ,, o menino que óra parece poderoso junto a Deos, náo só por sua innocencia, p rém ainda mais por sua fraqueza; o velho tambem o é porque com a fraq ue– za da idade supporta na presença deDeos o peso dos soffrimentos _que seguem toda a vida humana. u Apiedade para est11s duas idades ex– tremas tem um caracter tocante, ainda que diverso-, de elfusão e ternura; na in– f ncia tem as canduras da alegria: na v lhice as aspirações da dôr, .dupla ma– neira d~ edificar a terra e enternecer o céo. u Mas . em todas as idades o homem .tem igual necessidade de orar. Se acon– tece que o qu se chama feliz não ora, é porqu para elle toda a felicidade é gozar dos prazeres <.la terra, nada espera do céo: orar seria pe1 ir bens de que não tem nem conhecimen to, nem desejo. Mas se a desgraça vier surprehendel-o, a doen– ça consumil-o, a fome aguilhoal-o, a dôr moral despedaçal-o, a morte arrancar– lhe o objecto amado, se elle ficar emfim solitario em sua tristesa e em suas la- 15rimas, orará então ; infeliz, se lembra- • rá de que ha_ um Deos que dispõe da morte e da vida; ou então se a agonia mesm~ não lhe e?sinar a oração, será por– q_ue nao será m'.1-is um homem : 0 gôso tmh!1- corrompido, a dôr o terá feito in– sens1vel. Ha destas almas esventuradas que passam p~r este contraste de sen– sualismo e _da msensibilidade; o mundo as chama almas embotadas como para exprimir esse grau de mizeria moral, cm que nada sobrevive no homem, a não sor talvez a grosseria das lembranças e a amargura dos pesares. » :n:ad. por umjoven seminarista. .F AMIZADE. Não deshonres o sagrado nome de ami– go, damlo-o a homens de nenhuma, ou de pouca virtude. Aqu~lle que odêa a Religião, aquelle que nao tem o summo cuidado da sua dignidade de homem, aquelle que não sente que se deve honrar a patria com ~uizo e honestidade, aquelle que é filho irreverente e máo irmão, ainda que fosse o ma!s maravilhoso dos viventes pela amemdade de aspecto e maneiras, pela eloquencia do discurso, pela multiplici-. dade dos seus conhecimentos, e até por algum-brilhante impulso para as acções generosas, não te induza a travar com elle .\IDizade. Ainda que te mostrâsse o mais vivo affecto, não deverias conce– der-lhe a tua familiaridade ; só o homem virtuoso tem as · qualidades para ser amigo. Quem se liga a perversos companheiros perverte-se, ou quando menos faz reflec– tir sobre si com grande opprobrio a in– famia d'aquelles. Mas feliz d'aquelle que encontra um amigo digno! Ab,mdonado á sua propria força, esmorecia-lhe 'muitas vezes a vir– tude : o exemplo e o applau o do amigo lh'a redobram. Talvez estives e as"usla– do desde o principio, vendo-se inclinado a muitos defeitos, e não sendo partici– pante do valor que tinha; a estima do homem, que ama, realça-o a seus pro– prios olhos. Envergonha,.se ainda secre– tamente de não possuir todos os meritos, que a indulgencia do outro lhe suppõe; mas cresce-lhe o animo para procurar corrigir-se. Regosija-se de qne as suas boas qualidades não tenham escapado ao seu amigo; confessa-se grato; desej a ad– quirir outras; e eis que, graças á ami– zade, progride algumas vezes vigorosa– mente para a perfeição um homem, que se achava bem longe della, e que longe teria ficado . Não te cances para ter amigos. É me– lhor não ter nenhum que ter de arre– pender-se de os ter escolhido com pre– cepitação. Mas quando encontrares um, honra-o com elevada amizade. • Este nobre affecto foi sanccionado por todos os phiiosophos ; e até.mesmo pela Religião. Na Escriptura encontramos bellos exem– plos: - « A alma de Jonathas se conglu- tinou com a alma de David ... Jonathas amou-o como a sua alma ... » - Mas o que ainda é mais, a .amizade foi consa– grada pelo mesmo Redemptor ! conser– vou no seu seio a cabeça de João, quo ..

RkJQdWJsaXNoZXIy MjU4NjU0