A Estrela do Norte 1864
t 8 8 A. E8'.l'R t,;J~LA UO IWOK'l'E . . de faculdades constitue uma alma, ' um homem religioso, um homem como elle .deve ser. , Não se póde praticar actos bons, ac~os moraes sem · saber o que é bom ou mao, e o saber por si só sem actos que reali– zem este saber, que sejam para assim dizer a sua encarnação, reduz-se á uma mera curiosidade, que ser ve e que tem muitas vezes servido á vaidade, á ambi– ção falsa, ao orgulho ricliculo do indivi– duo , mas que nunca foi nem pode ser verdadeiramente util á humanidade. O saber, o amôr das sciencias, consi~e– rando-as não como fim mas como me10, é pois um dever para nós, por_qu~ o sa– ber contribuo para o clesenvolv1mento da nossa alma, do capital que nos foi con– fiado; e como um corollario desta nossa füése resulta tambem que o saber , que .a illustração como tal nunca pode fazer mal á humanidade. Se eu me sirvo d'um archote para me -0rientar n'um caminho escuro, faço uma acção util e razoa vel; se eu me sirvo deste archote para incendiar a casa de minha familia ou a do meu proximo, sou um criminoso; mas a causa do crime e das suas consequencias desastrosas não é e -archote, e sim a minha vontade perver– _sa, viciada. Porem, meus caros jovens amigos, os objectos, que se apresentam ao nosso sa– ))er são tão innumeraveis, a região das sciencias é tão vasta, que o homem com razão deve lembrar-se das palavras do Hippocrates : Vita bmvis, ars longa, e es– colher entre tantas e tantas cousas que pode aprender, que pode saber as mais uteis para elle nas suas circumstancias particulares. Tenho pois que dizer-vos algumas palavras sobre a u tilidade do .estudo da lingua grega. O estudo do grego, sobre tu·do o da parte etymologica des te idioma, em pri– meiro lagar é summamente util porque acostumamo-nos a dil'igir os nossos pen– samentos segundo as differentes, mas in– variaveis regras da grammati'ca. E' ver– dade que o estu do grammatical de toàas as línguas mor tas ou vivas, tem mais o menos este resultado. Po· m tanto na r iqueza das palavras como na das fórmas grammaticaes a língua grega é superior .a qualquer outra. .Mencionarei aqui ape– nas o artigo, o dual na decli nação, a voz meia o modo optativo os dous aoristas, a red~plicação, o augm~nto na co~uga– ção; 0 estudo desta -yariedade_de formas, das quaes carece a lingua latma e quasl todas as ll nguas vivas, Junto .ª _uma syn– tue complicada e bastantoorigmal cons- • litue uma especie de gymnastica intel– lectual que ser ve de Iogica pratica ao es– tudante ao mesmo tempo que elle vai ap– prendendo o idioma. Neste sen tido as vantagens que tiramos do grego se asse– melham até certo ponto ás que resultam das mathematicas. Um segundo motivo mais poderoso ain– da que o primeiro e que de todos os tem– pos convidou os homens sensatos para o estudo da lingua dos antigos Gregos é a sua vasta e grandiosa litteratura, este espelho onde se reflecte a índole, o ge– nio , o caracter d'uma nação. Com effeito nas poesias epicas d'um Homero e Hesiodo, nas lyricas d'um Píndaro, nas dramaticas d'um LEschyles, -Sophocles, Eurípides, Aris tophanes, nas obras historicas, philo– sophicas, rhetoricas d'um Herodoto , Tlm– cidides, Xt!nephonte, Pla tão, Aristoteles, Demosthenes, acham-se depositados tan– tos thesouros de sentimentos e de idéas su– blimes, de conhecimentos hi storicos, geo– graphicos, de noções utilissimas, de phi– losopbia, do ethnographia e de historia natural que de cer to seria uma levian– dade imperdoavel da nossa parte se, po– dendo-o fazer, deixassemos de familiari– sat- nos'com uma língua, que serviu para tão bellas manifestações da in telligencia humana. E' verdade que em vão procuramos nas obras d'um Platão, d'um Aristoteles , e dos outros autores uma pagina, uma linha que se assemelhe embora que de longe ás idéas fu ndamentaes do Christia– nismo; -é verdade que nenhum dos poe– tas, dos phi.losophos, dos oradores que formam a gloria nacional àos antigos Gregos, nem se quer sonhou em ensinar a igualdade de todos os homens perante Deos; em ensinar a amar a Deos sobre tudo, a amar aos seus proximos; em en– sinar a profunda immoralidade da vin– gança; ó verdade que em vez de procla– mar Deos unico Crea.rlor do mundo, elles creavam ou por melhor dizer fabrica– vam com uma productividade prodigio– sa um sem numero de Deoses e de Deo– sas que necessariamen te parti cipavam de todos os defeitos elos homens seus crea– dores. Tudo isso é innegavel. - Mas que se me permit ta aqui uma reflexão. o antigo my tho grego dos Titães ou gigantes que amontoando montanhas so– bre montanhas queriam subir ao céo e tomal-o por assalto symbolisa-nos per– feita~ ent~ a significação do povo grego ~a historia do gencro humano. os an– twos gregos mostram-nos até onde po– de!-11 chegar o~ homens com as suas pro– prias forças. r ~ntaram a conquista do " .. 1.
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